Histórico

Zélia: ‘Crise imobiliária não chegará ao Brasil’

Ex-ministra do governo Collor deu palestra para empresários em Boca Raton

Dentro do ciclo de palestras promovidas pelo Brazilian Business Group (BBG), Zélia Cardoso de Mello, ex-ministra da Economia, Planejamento e Fazenda do governo de Fernando Collor de Mello durante os anos 1990 e 1991, esteve em Boca Raton na semana passada e palestrou para o grupo.

Apesar de ter ficado pouco tempo à frente do Ministério, Zélia tornou-se uma das figuras mais polêmicas do Brasil da época, após a divulgação do famoso Plano Collor. Hoje, 20 anos depois, ela responde com tranquilidade sobre o vendaval causado no país, logo depois de ter assumido o comando da economia brasileira.

O Plano Collor tinha duas vertentes: a estrutural e o combate à inflação. Na parte estrutural, funcionou bem, com a liberação da economia e os incentivos à produção, como o caso do carro popular; no combate à inflação, não fomos bem sucedidos no curto prazo e até hoje lamento por aqueles que tiveram seu dinheiro congelado, mas a verdade é que precisávamos de uma medida dura para conter a hiperinflaçào que ameaçava o Brasil, com juros de 80% ao mês. Isto estancou o processo inflacionário”, explicou a ex-ministra.

Ela também comentou que o Plano Collor, a exemplo do Plano Cruzado, serviu para fincar as bases que desaguaram no Plano Real, uma vez que eles promoveram mais desregulamentação e foram libertando o país de algumas amarras que impediam o desenvolvimento econômico.

É bom frisar que que ela chegou ao poder em razão de sua experiência na área econômica. Depois de ter-se formado na Escola de Negócios da Universidade de São Paulo, em 1975, ela se tornou professora assistente da própria USP dois anos depois. De 1982 a 1983 trabalhou na Embaixada do Brasil em Londres e, ao voltar ao Brasil, foi nomeada diretora financeira da Companhia de Desenvolvimento e Habitação do Estado de São Paulo até 1986, quando foi convidada a integrar a equipe de consultoria financeira do ministro da Fazenda, Dilson Funaro. Em 1990, ela se tornou a titular da pasta.

Ela veio para os EUA em 1996, acompanhando o então marido, Chico Anysio. O projeto era ficar pouco tempo aqui e depois retornar ao Brasil. No entanto, tudo mudou. O casal se separou e Zélia decidiu continuar morando aqui. Em 2001, juntou-se à Orix como consultora de oportunidades de negócios brasileiros, onde ficou até fevereiro de 2005. de 2003 a 2005, integrou o conselho de consultores da Lily Pond Capital. Trabalhou ainda na Jina Ventures, empresa de fundo de capital privado em New York, e em 2007 tornou-se sócia da Aquila Associates, também em New York.

Depois de conversar com os jornalistas, ela fez uma palestra ao grupo que lotou a ala reservada ao evento pelo Restaurante City Fish Market. Didaticamente, explicou como vê as perspectivas para a Economia Mundial, aliás, o tema de sua palestra.

Segundo a palestrante, 2011 foi um ano muito difícil, com uma série de fatores negativos, como terremoto no Japão, revolução no mundo árabe, crise na Grécia e na Europa, impasse no Congresso dos EUA que provocou o rebaixamento do rating do país etc. Já o Brasil ficou bem na foto, porque entregou o que prometeu do ponto de vista econômico e fiscal, enfatizou.

Como diz o ditado, depois da tempestade vem a bonança. Parece que 2012 pode ser o início da recuperação mundial, apesar de ser ainda um ano de muito sacrifício. Os números preliminares nos EUA foram promissores, com queda na taxa de desemprego, uma certa recuperação no índice da construção civil e reaquecimento econômico, mas não podemos nos esquecer que o processo de desalavancagem ainda não acabou, ressalvou.

Perguntada sobre a similaridade entre a crise imobiliária vivida pelos EUA e a possibilidade de isto se repetir no Brasil, Zélia Cardoso de Mello acredita que isto dificilmente ocorrerá. Aqui havia alguns instrumentos que garantiram financiamentos de imóveis, que não tinham consistência. No caso do Brasil, o sistema bancário é mais regulado e o comprador negocia diretamente com o banco. Além disto, havia um déficit habitacional no país e pouca disponibilidade de financiamento. Com a liberação do crédito, muita gente pôde comprar seu imóvel, o que aqueceu o mercado, explicou. Evidentemente, vai chegar um momento no qual o mercado vai estabilizar-se e até mesmo declinar, mas ela não vê algo tão catastrófico como se verificou aqui: A lei da oferta e procura rege o mercado e muita gente que está investindo em imóveis pode quebrar a cara se houver uma retração econômica, mas no geral a situação parece sob controle.

As previsões sobre o Brasil são otimistas, com crescimento estimado em 4% para este ano. A grande vantagem do país é ter Dilma Rousseff no comando, uma administração mais séria do que a de Lula: Ela é mais pragmática e menos política e toma decisões quando necessárias.

Diante das dificuldades, Zélia acredita que este ano ainda será difícil, mas adota uma palavra de ordem. Estou otimista, mas com um otimismo cauteloso. Foi bastante aplaudida.

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