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Atenção senhores passageiros, apertem os cintos!

Imigração tem aviões próprios para transportar indocumentados: é a ICE Air, uma das companhias aéreas que mais cresce nos Estados Unidos

Há vários anos as empresas aéreas enfrentam dificuldades devido à crise no setor, o que fez com que muitas passassem a cobrar pela bagagem despachada ou mesmo pela bebida servida nos vôos. No entanto, uma companhia americana não tem do que reclamar, pois o número de passageiros transportados no último ano fiscal superou em 5% o índice de 2006 e em mais de 25% o do período anterior. Trata-se da ICE Air, mantida pela polícia de imigração americana (Immigration and Customs Enforcement) para levar os milhares de indocumentados deportados de volta aos seus países de origem.
Desnecessário dizer que os principais dos cerca de 190 destinos dos aviões da ICE Air estão na América Latina, em especial Guatemala e Honduras, mas as aeronaves – todas com a logomarca do ICE – também costumam voar com freqüência para países como Filipinas, Indonésia e Camboja. A bordo, o tratamento dispensado aos passageiros é bem melhor do que o que eles recebiam em terra, num país que recentemente tem se mostrado intransigente com os indocumentados. “Para muitos destes imigrantes, a jornada em busca do sonho americano foi longa. Esta, portanto, será a última impressão que eles terão dos Estados Unidos, por isso queremos prestar um bom serviço”, disse o chefe de operações de vôo da ICE Air, Michael Pitts, um ex-piloto do Exército, hoje baseado em Kansas City.
Ele acrescentou que a companhia opera exatamente como as empresas comerciais, levando seus passageiros a cidades cujos aeroportos mantêm conexões com rotas internacionais e, é claro, que possuem numerosas comunidades de imigrantes em situação irregular. Há a ocorrência até de excesso de passageiros (overbook) em determinados vôos. Segundo Pitts, alguns deportados precisam ceder o lugar devido à prioridade de certos casos, como aqueles de criminosos procurados em seus países de origem ou de indivíduos que estão passando por algum tipo de emergência familiar.
Cada passageiro pode levar cerca de 18 quilos (40 pounds) de bagagem, mas essa é uma regra que não é levada a ferro e fogo pelos agentes de imigração. “Não cobramos por excesso de bagagem, até porque muitos deportados sequer têm pertences para carregar”, admitiu Pat Reilly, porta-voz do ICE. Ela lembra que os vôos partem levando, na sua grande maioria, pessoas que foram capturadas tentando entrar ilegalmente nos Estados Unidos pelo deserto e estas não costumam carregar mais do que uma mochila na travessia. Os que chegam a viver na América normalmente levam para seus familiares eletrônicos e brinquedos.
O nome ICE Air é, na verdade, a maneira como os agentes de imigração se referem aos aviões que partem diariamente repletos de homens, mulheres e crianças deportadas ou removidas da América, mas para os controladores de tráfego aéreo os vôos são chamados simplesmente de ‘repatriados’. No percurso, os passageiros têm direito a um lanche, quando normalmente é servido um sanduíche, chips, suco de laranja e um saquinho de cenoura.
Ao todo, são 10 aeronaves que pertencem a esta dita companhia aérea, que é uma das que mais cresce nos Estados Unidos em termos de passageiros. Senão vejamos: no ano fiscal de 2007 o ICE deportou mais de 76 mil imigrantes, enquanto que no mesmo período anterior o índice ficou em torno de 72 mil. Há dois anos, o número de deportações não passou de 51 mil. Como cada passageiro paga em média 620 dólares por uma passagem one-way na aviação civil tradicional, a criação da ICE Air representa ainda uma economia de dinheiro para o governo americano, que antes pagava às companhias aéreas pelo serviço.

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