Histórico

Atentado no Arizona já é divisor de águas no debate imigratório nos EUA

Políticos decidem mudar tom dos debates depois do ataque que matou seis pessoas e feriu treze

Nada será como antes no debate imigratório. Esta é a sensação nos Estados Unidos depois do ataque promovido pelo jovem Jared Lee Loughner, em Arizona, que deixou seis pessoas mortas em um evento promovido pela deputada democrata Gabrielle Giffords. A parlamentar levou um tiro na cabeça e segue hospitalizada em estado crítico.

Ninguém tem dúvidas que o ato de radicalismo é fruto do clima tenso naquele estado, que no ano passado aprovou uma lei com teor racista que criminaliza os indocumentados. O tom dos debates se acirrou ainda mais durante a última campanha eleitoral e a própria Giffords já havia sido vítima de vandalismo, quando teve seu escritório na Câmara de Representantes violado ao manifestar apoio a uma causa contrária ao pensamento conservador. Seus adversários republicanos chegaram a lançar slogans de campanha com os dizeres ‘Ajude a tirar Gabrielle Giffords de seu posto. “O Arizona é hoje a Meca dos preconceitos e da intolerância. Vivemos num clima de ódio”, afirmou o oficial de Justiça do condado de Pima, Clarence Dupnik.

De fato, assustados com a repercussão do caso, os integrantes do Tea Party, segmento ultraconservador entre os republicanos, se apressaram em dizer que não têm ligação com Loughner, apesar do discurso semelhante entre as duas partes. Os americanos acreditam que a linguagem inflamatória de algumas personalidades do ‘Partido do Chá’ (em tradução literal) podem, sim, insuflar os mais radicais.
“Quando você se encontra com figuras promovendo pontos de vista como este, isso faz com que a temperatura aumente, é claro”, disse o escritor Joe Klein, numa referência ao comentarista político Gleen Beck.

Outra integrante do Tea Party é a ex-governadora do Alasca Sarah Palin, que depois do atentado no Arizona, preferiu culpar a imprensa americana e analistas políticos de incitar o ódio e a violência. “Nas horas após uma tragédia, os jornalistas e analistas não deveriam fabricar uma calúnia sangrenta que só serve para incitar o ódio e a violência que eles afirmam condenar. Isso é repudiável’, afirmou Palin, defendendo o Partido Republicano. Ela é a provável candidata de oposição à atual administração nas eleições de 2012.

Para a advogada brasileira de imigração Iara Nogueira Morton, o chocante acontecimento em Tucson deve mesmo mudar a percepção acerca dos imigrantes. Em primeiro lugar, é triste que a situação tenha chegado a este ponto. Mas acredito que de uma tragédia dessa possa sair algo positivo, pois os americanos certamente não apoiam atos extremos, disse a advogada. Ele lembrou que um dos mortos no ataque era juiz federal e defensor dos direitos humanos, mas que neste momento outras vozes precisam se levantar em favor dos mais de 10 milhões de indocumentados na América.

No auditório de uma universidade no Arizona, onde aconteceu uma cerimónia em memória das vítimas do ataque, 14 mil pessoas prestaram homenagem às vítimas, entre elas o presidente e a primeira-dama do país, Barack e Michelle Obama. “Não há nada que eu possa dizer que vá preencher o buraco aberto nos vossos corações, mas quero que saibam que as esperanças de uma nação estão aqui”, disse o presidente, num apelo para que a sociedade evite a politização da tragédia. Já Loughner deve ser condenado a pena de morte.

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