Um grupo de 12 brasileiros e um holandês radicado no Brasil foi detido e submetido a maus-tratos em Nassau, nas Bahamas, ao tentar visitar o país para praticar mergulho, segundo membros do grupo que relataram o caso à Embaixada do Brasil em Cuba.
Os brasileiros, que chegaram ao Brasil nesta quinta-feira, afirmam que foram enviados a um centro de detenção para imigrantes ilegais das Bahamas, onde permaneceram por cerca de 20 horas sem comida ou água, e sofreram extorsões por parte dos policiais em Nassau.
Brasileiros são algemados e detidos em aeroporto de Nassau (Bahamas)
“Não entendemos até agora o que aconteceu. Não havia nada irregular em nossa viagem e a única explicação que recebemos para a detenção foi a de que éramos brasileiros”, afirmou à Folha Online, por telefone, de Belém, o empresário Ricardo Unger, 44, um dos membros do grupo. Oficialmente, brasileiros não precisam de visto de turismo para viajar às Bahamas.
Unger disse que pratica mergulho há cerca de três anos e que o grupo que foi detido
–composto por seis homens, um dos quais é instrutor de mergulho, e sete mulheres– viaja constantemente em busca de praias para praticar o esporte. Segundo ele, a viagem começou em Havana (Cuba) e deveria incluir três dias em Nassau, onde desembarcaram no último domingo (25).
Ao chegarem ao aeroporto de Nassau os brasileiros foram barrados por oficiais do controle de imigração local. Unger afirma que apenas os homens foram algemados sem qualquer explicação por parte das autoridades e que todos foram enviados para o que ele classifica de “uma espécie de campo de concentração”, onde ficaram até a tarde do dia seguinte (26) presos em galpões. A mulheres do grupo foram mantidas em um galpão separado.
Extorsão
Após quase 20 horas sem acesso a água ou comida e sem poder entrar em contato com o Brasil, o grupo foi levado ao aeroporto em Nassau e embarcado em um vôo de volta a Havana, segundo Unger.
O empresário afirma ainda que, no aeroporto, um policial confiscou todo o dinheiro que os brasileiros tinham nas carteiras. “Não levaram nossas coisas nem tiraram o dinheiro que tínhamos escondido, mas tivemos de abrir nossas carteiras e o policial tirou todos os dólares que encontrou”. Unger disse que não compreendeu a explicação do policial para o confisco.
Em Cuba, a Embaixada do Brasil recebeu uma reclamação do grupo e redigiu um relatório enviado ao Ministério das Relações Exteriores em Brasília. A embaixada em Havana informou que apesar de ter oferecido apoio e orientação ao grupo, não tem jurisdição para atuar nas Bahamas.
A representação diplomática brasileira em Havana afirmou ainda que as Bahamas têm a prerrogativa de impedir a entrada de cidadãos estrangeiros, mas que, se confirmados, maus-tratos e extorsão são atos irregulares.
Trauma
Unger afirma que a prisão foi um ato de preconceito contra brasileiros. “Há várias pessoas no grupo que estão traumatizadas. Minha mulher acorda chorando”, diz o empresário.
Ele diz acreditar que sua integridade física só não foi ameaçada porque o grupo era numeroso. “Os policiais do centro de detenção passaram a noite engatilhando suas armas e dizendo que estávamos ali porque somos brasileiros”, relata.
No Brasil, o Ministério das Relações Exteriores informou que recebeu um pedido de averiguação do caso na última terça-feira (27) por parte de um dos familiares dos brasileiros, que relatou às autoridades o ocorrido. No mesmo dia, o ministério solicitou notícias sobre o caso à embaixada em Cuba.
O relatório enviado pela embaixada em Havana ainda não foi analisado pelo Itamaraty. Antes que uma resposta pudesse ser dada para o caso, os brasileiros retornaram ao país. “Ainda não entramos em contato com o Itamaraty por falta de tempo”, disse Unger.
A divisão de assistência consular do Itamaraty afirmou que espera um contato do grupo. O Brasil não possui embaixada nas Bahamas, mas já há um representante brasileiro naquele país que instalará a representação. O representante foi informado da detenção dos mergulhadores e está investigando o caso, segundo Brasília.
Caso a detenção e os maus-tratos sejam confirmados, o máximo que poderá ser feito pelo ministério é o envio de um comunicado oficial para as Bahamas para expressar a preocupação do Brasil com relação à recepção de seus cidadãos.
Procurados pela Folha Online, o Ministério das Relações Exteriores das Bahamas e o escritório da imigração do país no aeroporto de Nassau não comentaram o caso.