Histórico

Brasileiras formam corrente social

Grupo de mulheres brasileiras usa redes sociais para se comunicar e para ajuda mútua

Por: Antonio Tozzi

A publicitária carioca Rafaela Rangel nunca quis sair do Brasil, mas ironicamente se tornou uma cidadã do mundo por causa da profissão do marido que obriga o casal a constantemente mudar de país e de cidade. A partir daí, surgiu a ideia de criar grupos de mulheres brasileiras em várias cidades, porque, afinal, todas têm os mesmos interesses e enfrentam as mesmas dificuldades. Por que, então, não compartilhar as experiências?

Com esta premissa, os grupos de “borboletas”, como se autodenominam, foram reproduzindo-se por vários locais. A escolha do animal de estimação é bem feliz, porque, se ficassem isoladas em seus casulos, nunca abririam as asas e ficariam livres para voar.
Para entender melhor o propósito deste grupo, o AcheiUSA entrevistou Rafaela Rangel, que nos conta como uma mera troca de informações está tornando-se uma rede ampla e abrangente com vários desdobramentos.

AcheiUSARafaela, antes de mais nada, apresente-se aos nossos leitores: Quem é você? Onde nasceu no Brasil? Onde mora aqui nos EUA? Qual tua profissão?
Rafaela Rangel – Eu nasci no Rio de Janeiro e nunca quis sair do Brasil. Era publicitária no Brasil e vim ser mãe 24 horas aqui em Nova York.

AU-Como surgiu a ideia de formar um grupo “Brasileiras nos EUA”? Qual é o objetivo principal do grupo?
RR- Na verdade não existe o Brasileiras nos EUA e sim, os grupos, sites e apps de vários diferentes lugares: Brasileiras de NY, Brasileiras da Flórida, Brasileiras de Toronto, de LA e por aí vai… Eu criei um grupo em cada lugar que eu tinha uma amiga. A idéia surgiu quando eu tive que me mudar para a Suécia por um ano devido ao trabalho do meu marido, com um bebê de cinco meses, sem conhecer ninguém e sem falar a língua local. Fui conhecendo brasileiras através de blogs, adicionando-as ao meu facebook e criando o grupo para nos comunicarmos, pegar dicas de médicos, pediatras, babás, faxineiras, lugar para morar, fazer amizades, ter com quem conversar. Depois disso morei na China (Beijing) e fiz a mesma coisa. Fiz grandes amigas, falo com elas até hoje e isto me ajudou muito a superar as barreiras que existem em morar em outro país. Quando voltei para NY, fiz o mesmo. Criei um grupo para me comunicar com minhas amigas e pegar dicas de bairro para morar, escolas, programas para fazer e, de repente, em um mês, o grupo já tinha mais de 600 mulheres. O objetivo principal é uma dar dicas para as outras, marcar encontros, fazer amizades e trocar informações, acima de tudo. Dentro dos grupos você acaba sabendo tudo que está acontecendo de legal na cidade, marcando almoços, sabendo de descontos exclusivos para o grupo, coisas bacanas que acontecem na cidade.

AU- Você não acha que o grupo é muito sexista e restringe a participação masculina? Estamos diante do surgimento de um novo poder na comunidade?…rs…
RR- O grupo só tem mulheres por um simples motivo; muitas vezes o casal se muda de país pelo trabalho do marido. Ele acorda de manhã, vai trabalhar e constrói toda uma vida social fora de casa, enquanto a esposa fica em casa, sem amigas, sem conhecer ninguém… E também pelo motivo de as meninas falarem coisas íntimas, funciona como um divã, falamos sobre nossos problemas, pedimos ajuda, uma entende a outra. E, claro, tem as solteiras que marcam jantares e saídas juntas, as batalhadoras que conseguem empregos pelo networking que o grupo oferece… Mas os maridos sempre são bem-vindos nas nossas festas, encontros….

AU- O grupo é restrito somente às mulheres brasileiras que vivem nos EUA ou você permitem que outras mulheres sejam membros? No caso de alguém se mudar do país, está automaticamente desfiliada ou pode continuar participando? E há algumas estrangeiras?
RR- O grupo é exclusivo para mulheres que residem nos estados/cidades determinados. Muitas das que voltam ao Brasil permanecem nele, pelas amizades, ajuda, porque continuam dando dicas e algumas se desligam por não ter mais interesse naqueles assuntos. Além disso, muitas se mudam para outras cidades do mundo e entram em outros dos nossos grupos! Não tem estrangeiras porque só escrevemos em português, falamos sobre produtos, mercados, comidas brasileiras, é um lugar para entrarmos em contato com a nossa terra.

AU- Quanto tempo o grupo está em atividade? Vocês já fizeram alguma ação efetiva que resultou em benefício de alguma integrante do grupo? Em caso positivo, o que foi?
RR- Nossa! Já aconteceu tanta coisa maravilhosa… Não sei nem enumerar…
O grupo de NY por exemplo, passamos por momentos difíceis juntas… Teve um terremoto aqui em 2011, onde todas procuraram saber se as outras estavam bem, mandando mensagens, fazendo ligações… Quando o furacão Irene passou por NY a mobilização de ajuda das meninas foi incrível também, com meninas recebendo outras em suas casas, pois muitas tiveram que evacuar seus lares por estarem em zonas de perigo. Além disso, muitas que estavam no Brasil pediam ajuda para que as outras verificassem se estava tudo bem nas suas casas, algumas ficaram sem internet e telefone, só mantinham contato por mensagens de textos no celular, e pediam para avisar as famílias no Brasil que estavam bem. Uma menina perdeu o bebê que nasceu prematuro e sobreviveu somente oito dias e o grupo deu um suporte incrível, acolheu-a com todo carinho… Muitas “borboletas” arranjaram empregos. Uma, em especial, virou uma amiga querida. Ela faz os melhores salgadinhos de NY! Eu os provei e coloquei foto das coxinhas, empadinhas e risoles dela no grupo, hoje em dia ela é requisitadíssima e não tem uma festa que as delícias da Gislaine não estejam presentes. Os famosos bolos da Juliana Bocon Rao também são um sucesso em NY.
No grupo de Miami muitas meninas cresceram seus negócios, aumentaram o volume de vendas, arranjaram emprego, conheceram os famosos brigadeiros da Cris’s Brigs, da Cristiana Servera (que faz os melhores brigadeiros gourmet de Miami), os bolos da Chanda Carroll… Confesso que o pessoal de Miami se diverte muito mais que nos outros grupos. Toda hora tem happy hour, tardes de jogo de cartas, almoços, jantares. Através do grupo viemos a conhecer os produtos que a querida Claudia Fehribach representa, da Nouvara, enfim, um novo mundo se abriu para muitas de nós.

AU- Você é a coordenadora do grupo, mas há outras mulheres que ajudam a organizar a programação? Tudo é feito voluntariamente, não?
RR-Sim, eu coordeno todos os grupos e em cada um deles eu escolho uma menina que eu confie e que seja voluntária para me ajudar a administrá-los.

AU-Que tipo de eventos vocês organizam? É apenas um intercâmbio virtual ou pode haver interatividade pessoal?
RR- Em todos os grupos, além dos encontros que as “borboletas” (elas se auto denominaram assim, por causa da logo que é uma borboleta) combinam, temos os encontros oficiais do grupo, que são grandes festas, brunchs, jantares…

Todas as festas que promovemos, sempre colaboramos de alguma forma com a Fundação Brazil Child Health, fazendo doações, divulgando o trabalho deles e tentando levantar fundos para eles. Estamos lançando uma linha de jóias com o símbolo do grupo, a borboleta, e a maior parte da renda será revertida para o BCH. Quem está assinando a coleção é a designer Mary Esses que tem muitas de suas peças entre as preferidas da primeira dama americana, Michelle Obama.

Cris Servera, a coordenadora do grupo da Flórida

As mulheres daqui encontram-se para um brunch neste final de semana em Hallendale

O grupo de Miami surgiu em meados de janeiro deste ano, e finalmente conseguiu organizar o primeiro evento, reservado apenas para as mulheres que participam do grupo: um brunch no dia 21 de abril, no Martini Bar do Gulfstream, em Hallandale. Achei melhor ser brunch, pois precisava encontrar um horário e local que fosse favorável para a maior parte do grupo.

Cris conta como aceitou a proposta dela para ser a coordenadora do grupo, tarefa dividida atualmente com Yolanda Lazarus: No início deste ano, Rafaela Rangel entrou em contato comigo, não nos conhecíamos, fomos apresentadas por uma amiga em comum que também mora em New York. Rafaela estava com a ideia de começar na Flórida, ou melhor dar continuidade a um trabalho muito bacana de criar o Grupo das Brasileiras. Grupos que já existem em vários lugares, Brasileiras de…… é uma marca registrada e temos grupos em outros estados sim, inclusive Atlanta. O grupo em Atlanta está ainda bem no início e tenho certeza que será um sucesso.

A empresária, que vem fazendo sucesso com seus brigadeiros gourmet, disse ter ficado encantada com o conceito, por isto entrou com tudo no grupo das Brasileiras da Flórida. O grupo tem como finalidade criar uma comunidade onde nós, mulheres, trocamos informações e dicas sobre tudo o que se pode imaginar: médicos, cabelereiros, manicures, restaurantes, supermercados, moda, assuntos polêmicos, etc.
Começaram, então, a nascer amizades virtuais onde, mesmo sem se conhecerem pessoalmente, mulheres não só desabafam suas frustrações e tristezas como também dividem momentos de alegrias, aventuras e dúvidas, sintetizou Cris.

E o grupo ainda desempenha um papel importante para geração de renda para as mulheres que o integram, conforme explica Cris Servera: Com essa troca de energia positiva e com o intuito de ajudar e dividir, já ajudamos várias mulheres a conseguir trabalhos, principalmente para aquelas que oferecem serviço de limpeza, manicure, babysitter, imóveis e fotografia. Eu mesma sou um exemplo disso. Minha companhia de brigadeiros gourmet alavancou com esse grupo.

Segundo Cris, está para ser lancado em breve o website do grupo, onde estarão registradas todas as dicas e informações que estão sendo compartilhadas. Lá, as mulheres poderão anunciar suas empresas e atividades.

E o grupo deixou o terreno do virtual para se materializar em carne e osso. Boa parte do grupo já se encontra toda semana, quinzena ou pelo menos uma vez por mês. Tudo depende de como os happy hours são organizados. A dificuldade é que estamos espalhadas por toda a Flórida, mas principalmente no sul do estado, revelou a doceira.

Ela admite estar bastante entusiasmada com o evento que se realiza neste sábado: Rafaela e eu sempre tivemos a ideia de fazer um encontro oficial da turma, uma oportunidade para que nós, mulheres e amigas virtuais, pudéssemos nos conhecer. E obviamente organizar outros encontros ao longo do ano.

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