Histórico

Comunidade assustada com violência nas instituições de ensino da Flórida

Brasileira decide tirar filho da escola de Deerfield Beach, onde adolescente foi agredida

A agressão sofrida pela adolescente Josie Lou Ratley por um colega da escola de Deerfield Beach, há pouco mais de uma semana, foi a gota d’água para uma brasileira que tem um filho na mesma instituição de ensino: assustada com os últimos acontecimentos, ela decidiu que vai procurar a diretora da instituição ou até o conselho de educação do condado para pedir a transferência de seu garoto, que acaba de completar 13 anos e está na 6ª série. O motivo? Ele tem sido vítima de bullying escolar, um tipo de violência praticada nas salas de aula. “Quando penso naquela menina que foi espancada no ponto de ônibus tremo só de imaginar que poderia ser meu filho”, conta a brasileira de Governador Valadares, que prefere não ter o seu nome divulgado.

No último dia 17 de fevereiro, Josie foi brutalmente agredida por um colega de escola, Wayne Treacy, da mesma idade, que ainda jogou-a no chão, pisou e chutou sua cabeça várias vezes com uma bota com biqueira e tachas de aço. A menina permanece internada em estado grave num hospital de Broward, em coma induzido, e os médicos preferem não arriscar qualquer previsão. No entanto, afirmaram que só por milagre ela escapará sem sequelas.

O incidente não é o primeiro na escola de Deerfield Beach. Há três meses, o filho daquela brasileira chegou em casa com a camiseta rasgada depois de ser cercado por adolescentes mais velhos na saída da sala de aula. Segundo a mãe do garoto, ele foi ameaçado sem motivo, apenas porque é um menino educado e não quis se envolver com os grupinhos da escola. “Ao tentar se desvencilhar, um dos meninos segurou a manga da blusa, que acabou rasgando”, lembra a mineira.

Na ocasião, ela não deu muita importância ao fato, porque considera normal o que chamou de “disputa de território entre adolescentes” e também porque o filho nunca mais mencionou qualquer problema. No entanto, o caso de Josie acendeu a luz amarela. “Prefiro tomar uma providência logo, antes que algo aconteça. Eu não iria me perdoar”, disse a brasileira, que está esperando a poeira abaixar para pedir a transferência.

O mesmo problema foi enfrentado pela filha da também mineira Atília Monteiro, que frequentou a mesma instituição em Deerfield Beach há poucos anos. Priscila, hoje uma estudante de Administração de Empresas na Florida Atlantic University, foi vítima de preconceito. “Alguns colegas da escola implicavam com ela por causa do jeito de se vestir, porque ela sempre foi muito bonita e tinha o cabelo liso e louro”, lembra Atília, que percebeu uma mudança de comportamento na filha – ela cortou o cabelo e passou a evitar usar tênis ou calças novas.

Nesse sentido, ela faz um alerta aos pais de crianças em idade escolar: prestem atenção às reações das suas crianças. “Por sorte, notamos que havia algo errado e conseguimos trabalhar bem a situação com ela, que acabou tendo maturidade e personalidade para se impor no grupo”, disse Atília, que no Brasil era professora e jamais viu tantos problemas nas escolas como aqui nos Estados Unidos. Na época dos atos de intimidação contra Priscila, ela cogitou a ideia de transferí-la da instituição.

Essa também é uma opção para Claudia Souza, outra brasileira que tem o filho – Christopher, de 13 anos – na mesma escola. “É claro que fico preocupada, pois acho que a segurança é fraca. Graças a Deus meu filho vem para a casa logo depois do término da classe e prefere não se envolver com os grupos”, afirma Claudia. O menino, aliás, passou do lado do agressor de Josie momentos antes do ataque. “Se eles não fizerem alguma coisa, teremos mais problemas”, prevê Claudia.

Casos não são raros na região

A agressão sofrida por Josie não é um fato isolado, como provam as estatísticas recentes aqui no sul da Flórida. Logo depois do incidente em Deerfield Beach, um outro aluno socou uma colega dentro do ônibus escolar – o garoto foi imediatamente suspenso das aulas e pode enfrentar um processo de expulsão da escola, em Hollywood.

Mas já houve até casos de assassinatos: em setembro de 2009, um estudante cubano recém-chegado à Coral Gables High foi esfaqueado até a morte por um aluno da mesma série. Um ano antes, na Dillard High, Amanda Collette foi morta com um tiro dado pelas costas por uma colega, que estava apaixonada por ela e não teve o amor correspondido.

E quem não se lembra do caso do jovem Michael Brewer, da escola de Deerfield Beach, que sofreu queimaduras de primeiro grau depois que colegas decidiram atear fogo em seu corpo, jogando álcool e acendendo um isqueiro? Entrevistada pelo AcheiUSA na época deste incidente, a psicóloga Karina Lapa já alertava sobre a necessidade de que pais e educadores buscarem soluções para o problema cada vez mais presente nas salas de aula: “Cerca de um milhão de crianças são vítimas do bullying todos os dias nas escolas e este tipo de violência é um fenômeno social difícil de ser combatido. Somente ações integradas na família e na escola podem reduzir este número, antes que outras tragédias aconteçam”, frisou Karina.

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