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Cortando caminho para a cidadania

Rede de TV CBS4 investiga o próspero negócio de trazer russas para dar à luz em solo americano

DA REDAÇÃO COM CBS4 – O pequeno bebê recém-nascido balança as perninhas no berço, pronto para voar para a ‘Mãe Rússia’, direto do aeroporto de Miami para Moscou. O bebê é produto de um negócio em franca expansão, criado a partir de mulheres vindas de países que formavam antigamente o Bloco Soviético, e que buscam os benefícios de dar à luz a um bebê americano.

“Não, nunca ouvi falar e não gostei nada disso”, disse um turista do Texas em Miami. “Isso está errado em todos os sentidos”, disse um morador de Miami.

Durante algumas semanas, a rede de televisão CBS4 acompanhou a movimentação de bebês no Aeroporto Internacional de Miami no balcão de check-in da companhia aérea Aeroflot, e testemunhou dezenas de mulheres com seus pequenos bebês preparadas para embarcar carregando no colo o mais novo membro da família, um cidadão americano.

“Você veio para cá para ter o seu bebê?” Perguntou a reportagem da CBS4 a uma mulher na fila do check-in. “Sim, respondeu a mãe.” Outras mais não quiseram falar.

No andar de baixo, onde mais russos chegavam de Moscou pela Aeroflot, a reportagem falou com Cristina, radiante em seu sexto mês de gravidez, disposta a dar à luz em solo americano. “Estou aqui porque o atendimento médico é muito melhor do que na Rússia e na Europa”, disse ela à rede de TV.

Os plazas e shoppings de Sunny Isles Beach já estão sendo chamados de Riviera Russa por causa disso. Jovens mulheres empurrando seus carrinhos de bebê ou visivelmente grávidas estão por toda parte. Muitas moram em condomínios luxuosos, ou frequentam a Matroyshka’s Deli, mercado especializado em comida russa. Foi lá que a CBS4 falou com Maria Perova.

“Moro num condomínio de prédios e vejo mulheres grávidas constantemente chegando, tendo seus bebês e indo embora. Parece uma colônia de férias”, disse Perova à CBS.

A russa de 26 anos era repórter de TV na Rússia. Hoje, ela e o marido têm uma menina americana de um ano e seis meses para cuidar. “Quis ter o meu bebê aqui por causa da cidadania”, diz.

De acordo com a 14th Emenda à Constituição, a toda criança nascida em solo americano é automaticamente concedida a cidadania americana. É a chamada “jus soli”. Os EUA são uma das três únicas grandes nações do mundo onde isso ainda acontece.

A reportagem da CBS4 descobriu diversos websites em russo voltados para mulheres grávidas interessadas em se aproveitar desse privilégio. São negócios que cobram alto pela promessa de um nascimento tranquilo em Miami.

Uma dessas companhias foi fundada por Vladimir Nevidomy, um ucraniano de 28 anos que chegou aos EUA quando tinha 15. “Não é segredo que se a mulher der à luz aqui o recém-nascido será americano”, disse Nevidomy à CBS4. Empresas no ramo cobram entre $20 mil e $100 mil por uma espécie de “concierge para grávidas”, indicando às interessadas médicos e hospitais, acomodações por temporada e dicas de transporte. Segundo Vladimir, somente no ano passado, pelo menos 60 mulheres russas deram à luz no sul da Flórida a cada mês.

A mesma prática tem sido usada por famílias brasileiras em busca da cidadania americana. Vale lembrar que o filho americano só pode requerer a cidadania para os pais após completar 21 anos de idade. Para requerer o mesmo benefício para os irmãos do cidadão americano, já não é tão fácil. A esperar pode durar até dez anos. O estado escolhido pelas futuras mães brasileiras de bebês americanos também tem sido a Flórida devido a proximidade com o Brasil, o clima, e pelo grande número de brasileiros na região.

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