Histórico

Democratas devem priorizar aumento de salário mínimo

Salário mínimo americano não tem aumento desde 1997

O aumento do salário mínimo federal deverá ser uma das prioridades do novo Congresso americano, que passará a ser controlado pelos democratas a partir de janeiro de 2007. É essa a opinião de Patrick Basham, director do Democracy Institute, centro de pesquisas baseado em Washington e especializado em política norte-americana e eleições no país.
De acordo com Basham, os democratas deverão levar adiante a proposta de aumentar o salário mínimo assim que tomarem posse. Atualmente, o salário mínimo nacional é de US$ 5,15 por hora e ele não foi aumentado desde 1997.

A proposta de aumento do salário mínimo foi incluída em cédulas eleitorais e aprovada em diferentes locais dos Estados Unidos. Com isso, agora 29 Estados americanos, bem como a capital, Washington, contam com salários mínimos com valores superiores aos do determinado pelo governo federal.

“É um tema absurdamente popular entre os eleitores e que conta com grande apoio dos movimentos sindicais que dão apoio e dinheiro aos democratas. É algo que eles deverão levar adiante com grande vigor e rapidez”, diz Basham.

Efeito negativo

O analista acredita, no entanto, que o efeito econômico de longo prazo da medida poderá ser negativo.

“Os empregadores terão de pagar impostos mais altos e seguir uma série de regulamentações, o que poderá estimulá-los a buscar mão-de-obra no mercado informal, formado por imigrantes ilegais que aceitam receber salários abaixo do soldo mínimo.”

Além disso, acrescenta, o momento não é o mais propício para a implantação da proposta.

“O crescimento econômico vem diminuindo. Na última vez que o salário teve um aumento, o desempenho econômico do país era bem melhor. Por isso, do ponto de vista prático, não é uma boa idéia. Mas o fato de uma idéia não ser boa nunca a impediu de ser aprovada pelo Congresso.”

Dilema

O analista crê que o partido poderá sofrer dilemas quando tentar implantar sua política econômica.

“Eles terão de se perguntar se pretendem ser fiéis à sua filosofia, se além de aumentar salários, também irão implementar pontos de campanha como taxar megacorporações e reinstituir impostos cobrados sobre grandes fortunas, que foram cortados por Bush.”

Segundo o analista, os democratas têm mais tradição de gastadores do que de poupadores. Mas isso pode mudar, diz ele, devido aos esforços do partido em vender uma imagem de eficiência administrativa. “Eles querem mostrar que são mais pragmáticos do que ideológicos.”

Mas esse ímpeto em surgir aos olhos dos americanos com uma nova aparência também poderá causar contratempos. “Eles enfrentam o risco de alienar suas bases e decepcionar seus correligionários mais entusiastas. Mas é um risco que o partido precisa correr, porque se eles seguirem o caminho contrário, os republicanos irão tirar proveito político.”

Iraque

Em relação ao conflito no Iraque, Basham acredita que o partido não tentará impor cortes de financiamento às tropas americanas nem pressionar por uma retirada imediata dos militares do país.

“Um corte de financiamento poderia cair mal junto à opinião pública. Os democratas querem ser vistos como sendo contra a guerra, mas não contra os militares. Quando o senador John Kerry fez seu comentário sobre o Iraque, até mesmo grandes nomes democratas, como Hillary Clinton, pediram que ele se desculpasse”, afirma, em referência a uma gafe do ex-candidato presidencial americano, que disse a um grupo de estudantes que, se eles não estudassem, acabariam encalhados no Iraque.

O partido deverá investir na promoção de um amplo debate sobre estratégias para o Iraque e para isso, acredita Basham, contará até mesmo com o auxílio de ilustres republicanos. É o caso do Grupo de Estudos do Iraque, uma comissão estabelecida pelo Congresso e co-presidida por James Baker, ex-secretário de Estado americano no governo de George Bush, pai do atual presidente.

“Eles querem passar a impressão de que estão pensando no que todos podemos fazer juntos para traçar um plano que traria os militares de volta e tornaria os Estados Unidos mais seguros.”

No entender do analista, os democratas terão de ser cautelosos, porque, ainda que Bush e os republicanos agora estejam em minoria – ou talvez justamente por isso – o presidente e seu partido poderão usar cada impasse com a oposição como sendo causado por uma postura supostamente obstrucionista dos democratas.

O analista crê que os desafios serão grandes, “mas eles estão de olho na eleição presidencial de 2008 e sabem que passar uma imagem moderada vende melhor do que uma imagem de radical quando se trata de conquistar a Casa Branca”.

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