Histórico

Dissidente da Renascer acusa líderes de se apropriar de doações

Vereadora pelo PFL, Bispa Lenice foi expulsa pelo casal Hernandes e acabou denunciando esquemas

Integrante do grupo que fundou a Renascer em Cristo, membro da cúpula da igreja por 25 anos e eleita em São Paulo com 45.295 votos, a vereadora Lenice Lemos São Bernardo (PFL) – conhecida como Bispa Lenice – foi expulsa da denominação no ano passado em meio a um barraco apocalíptico. Acusada por Estevam e Sônia Hernandes de desviar dinheiro de doações, ela foi denunciada na 1 ª Delegacia Seccional de Polícia, mas revidou atacando. A troca de insultos resultou na abertura de um inquérito policial que começa a ouvir testemunhas nesta semana – e que mostra a versão de Lenice de como a segunda maior igreja neopentecostal do País exaure uma máquina financeira mantida por fiéis.

Formalmente acusada de embolsar R$ 15 mil em contribuições de freqüentadores da igreja e usá-los para pagar contas pessoais e diárias de um apart-hotel, a vereadora diz que foi expulsa da denominação porque se recusou a continuar loteando seu gabinete na Câmara dos Vereadores com indicações de Estevam Hernandes Filho – uma maneira de pagar com dinheiro público o salário de pessoas ligadas à Renascer por vínculo trabalhista ou parentesco.

Ao avisar Hernandes de que queria montar sua própria equipe, teria ouvido: “Se a senhora insistir em ter controle do seu gabinete, vou acabar com a sua carreira política”. Ela exonerou os funcionários e, como retaliação, teve documentos de seu escritório residencial roubados e foi expelida da igreja sob a explicação pública de que se recusara a participar de um “tratamento anticorrupção”.

Em um relatório de 12 páginas, a vereadora anexa o depoimento de uma ex-secretária dos Hernandes, que trabalhava para 13 empresas do grupo Renascer. A ex-funcionária conta que as empresas maquiavam saldos negativos por meio de operações de factoring feitas com cheques emitidos em nome do filho mais velho do casal, Felippe Daniel Hernandes, o Bispo Tid. Diz ainda que era orientada a falsificar a assinatura de Felippe Hernandes em cheques para comprar cavalos, pagar despesas de um helicóptero e de um haras e cobrir mensalidades de financiamentos imobiliários.

Dissidente da Renascer com maior poder de fogo para enriquecer o saco de denúncias contra os Hernandes – que aguarda julgamento nos EUA -, a vereadora ainda conta que o casal lança campanhas de arrecadação chamadas de “desafios”. Em cada uma, Estevam Hernandes pede aos fiéis que entreguem cheques preenchidos e assinados. Os cheques seriam usados para pagar despesas da igreja, mas também para serem negociados com bancos e factoring. Pressionados para atingir as metas, líderes dos templos assinam cheques como garantia de que cumprirão os desafios.

“Os oficiais e bispos ficaram desesperados ao constatar que seus cheques não seriam cobertos, pois os desafios impostos pelo apóstolo eram impossíveis de serem cumpridos”, diz a acusação da vereadora. Bispa Lenice, dizem pessoas próximas, pretende agora entrar em outra igreja.

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