Histórico

Doleiros são acusados de enviar US$ 19 bilhões aos EUA

A investigação que resultou no indiciamento de 34 doleiros brasileiros em Manhattan

A investigação que resultou no indiciamento de 34 doleiros brasileiros em Manhattan descobriu que eles remeteram ilegalmente US$ 19 bilhões para bancos daquele setor de Nova York entre 1997 e os dias de hoje. Indiciamento, para a Justiça americana, significa que o investigado foi convertido em réu. O valor corresponde hoje a R$ 41,5 bilhões.

Os doleiros são acusados de remessa ilegal, lavagem de dinheiro e de operar com valores em Manhattan sem ter licença para isso. O indiciamento deles foi anunciado anteontem.

A Promotoria Distrital de Nova York, que conduz a acusação, conseguiu congelar US$ 17,4 milhões que foram remetidos ilegalmente por doleiros.

O mais famoso dos indiciados é Hélio Laniado, que namorou Daniela Cicarelli e a atriz Carolina Ferraz. Laniado está detido em Curitiba. Ele foi preso na República Tcheca em agosto do ano passado e extraditado em agosto. No Brasil, ele é acusado de ter enviado ilegalmente US$ 1,1 bilhão para os Estados Unidos.

Cooperação Brasil-EUA

Os 34 doleiros já são réus da Justiça brasileira por conta das investigações em torno do Banestado –o Banco do Estado do Paraná que era usado para fazer remessas ilegais. A CPI do Banestado calculou que uma única agência desse banco, a de Foz do Iguaçu, remeteu R$ 150 bilhões entre 1996 e 2002.

A documentação reunida sobre o Banestado originou a maior investigação já realizada no Brasil sobre doleiros, conduzida pela Força-Tarefa CC5, um grupo de delegados da Polícia Federal e procuradores que têm como base Curitiba.

A acusação da Promotoria Distrital de Nova York partiu dos dados reunidos pela Força-Tarefa CC5 nos desdobramentos do caso Banestado. Uma das descobertas era que os doleiros brasileiros passaram a usar o Uruguai para fazer remessas para os EUA.

A promotoria de Manhattan encontrou o passo seguinte. O dinheiro que saía do Uruguai era remetido para uma agência do Bank of America: US$ 3 bilhões fizeram esse percurso, segundo a promotoria de Manhattan.

O Bank of America foi multado em US$ 6 milhões porque as normas da instituição não foram suficientes para evitar o depósito de dinheiro sujo. Os US$ 6 milhões serão revertidos para a cidade e o Estado de Nova York em projetos que serão escolhidos pelo promotor distrital Robert Morgenthau. O Bank of America vai bancar os custos da investigação da promotoria (US$ 1,5 milhão).

Outro banco acusado de lavagem de dinheiro de brasileiros é o Valley National Bank. Doleiros brasileiros operavam 39 contas nessa instituição, as quais receberam US$ 3,7 bilhões entre fevereiro de 1998 e junho de 2002.

Dólares do terror

Morgenthau aponta que o dinheiro remetido por doleiros brasileiros pode ter ajudado a financiar o terrorismo. Dados de um dos bancos investigados, o Beacon Hill, mostram que foram feitas remessas que somam US$ 31,5 milhões para Paquistão, Líbano, Jordânia, Dubai e Arábia Saudita, países que abrigam células terroristas, segundo a promotoria.

Os registros do Beacon Hill apontam que US$ 65 milhões que passaram pelo banco entre 1997 e 2002 tinham nas duas pontas do negócio empresas ou pessoas que atuam na Tríplice Fronteira –entre Brasil, Paraguai e Argentina. Os EUA acusam empresas da região de financiar o terrorismo.

Outro banco investigado, o Israel Discount Bank of New York, recebeu US$ 2,2 bilhões de doleiros brasileiros e concordou em adotar medidas para evitar lavagem de dinheiro.

Três advogados de doleiros não quiseram comentar as acusações sob a alegação de que não conhecem o processo.

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