Histórico

Em cúpula, Brasil e UE se concentram em “parceria estratégica”

José Sócrates: Parceria com o Brasil dará coerência às relações com as nações emergentes

BBC
A reunião de cúpula entre a União Européia e o Brasil nesta quarta-feira não busca resultados práticos imediatos, mas deve procurar abrir um novo momento nas relações entre os dois lados, o que recebeu o nome de parceria estratégica.
Trata-se de uma mudança na forma como a União Européia se relaciona com os brasileiros: até agora, todas as negociações eram com o Mercosul – os quatro países do outro lado da mesa – o que não ajudou a chegar a um acordo entre os dois lados.

A partir da reunião desta semana, haverá uma relação especial com o Brasil, que é reconhecido como líder do bloco econômico sul-americano – o país já conta com 80% do PIB do Mercosul.

“A parceria estratégica com o Brasil dará uma nova coerência às relações que a Europa tem com as novas nações emergentes. A União Européia já tem essas relações com a Índia, a China e a Rússia”, explicou o primeiro-ministro português José Sócrates, que atualmente ocupa a presidência rotativa do bloco europeu.

O responsável pela política externa de segurança da União Européia, o espanhol Javier Solana, disse o que os europeus pretendem: “Não serão apenas reuniões anuais. Vamos discutir não somente as relações bilaterais. Reconhecemos que o Brasil tem hoje um papel extremamente importante, independentemente das parcerias comerciais, dos investimentos e da cooperação nas áreas científica e tecnológica. Há uma importante agenda global que a União Européia deve assumir, e aí as relações com o Brasil jogam um papel de relevo”.

Os dados europeus indicam que o Brasil já tem uma relação econômica especial com a União Européia, que não encontra tradução na área política. Com investimentos europeus de 80,1 bilhões de euros, o Brasil contabiliza mais capital da União Européia do que os três outros grandes países em desenvolvimento juntos – a China tem 31,3 bilhões e a Índia, 11,7 bilhões. Só no ano passado, o total investido pelos europeus no Brasil atingiu 5,2 bilhões de euros.

Segundo Sócrates, as relações com o Brasil são uma das prioridades dos seis meses da presidência portuguesa da União Européia, assim como fechar o novo tratado que regula os poderes na Europa – texto que substituiu o projeto de constituição que foi derrotado em referendos na França e na Holanda –, a África e as questões do meio ambiente.

Foi uma iniciativa portuguesa propor as reuniões anuais com o Brasil. A proposta foi apresentada em novembro do ano passado.

Propostas de parceria

Na proposta de base para a parceria estratégica apresentada pela comissária européia Benita Ferrero-Waldner, que tem a pasta das relações exteriores da Comissão Européia, há um convite para o Brasil definir o que pretende com a estratégia.

Os europeus têm em vista uma longa série de pontos para a cooperação, entre os quais se destacam:

– Realizar reuniões tentando definir posições conjuntas antes de todas as grandes reuniões internacionais em que os dois lados estejam presentes, como a assembléia da ONU;
– Cooperar para a não proliferação nuclear;
– O empenho dos dois lados para concluir as negociações da Rodada de Doha da Organização Mundial de Comércio;
– Cooperação para ajudar outros países a atingir os objetivos do milênio de erradicação da pobreza, especialmente os da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa;
– Estabelecer um diálogo que ajude o Brasil a resolver o problema da desigualdade social e da pobreza;
– Trabalhar para reduzir as diferenças regionais brasileiras;
– Discutir sobre formas como lidar com as alterações climáticas e as medidas que teriam de ser adotadas nas instâncias internacionais;
– Colaborar na área dos biocombustíveis e das energias renováveis;
– Trabalhar para a coesão social, de forma a reforçar as democracias na América Latina.

Os europeus também vão procurar ter um diálogo regular com o Brasil sobre a situação econômica mundial, direitos de propriedade industrial, abertura do espaço aéreo, transporte marítimo e cooperação científica, cultural e tecnológica.

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