Histórico

Funk carioca invade a América

MC Playboy faz shows em Miami e New York

Ainda criança, o pequeno Valnei Miranda Maciel ouvia os discos do ídolo James Brown e sonhava em, quem sabe um dia, ser famoso nos Estados Unidos. Para alguém nascido no Complexo do Alemão, uma das comunidades mais carentes e violentas do Rio de Janeiro, o sonho parecia distante. Mas, anos depois, a realidade tem sido melhor do que qualquer aspiração infantil: Valnei – ou melhor, MC Playboy – está curtindo o sucesso na América e tem feito shows em New York e Miami, divulgando o autêntico funk carioca na Terra do Tio Sam.
A vida no início não foi fácil para Valnei. Apesar de ter sido criado com algum conforto pelos tios, já que os pais não tinham condições de sustentá-lo, ele precisou trabalhar duro, desde cedo, para sobreviver. Foi desde camelô até jogador de futebol, atuando como goleiro nas divisões de base do Bonsucesso, Olaria e Vasco da Gama. O esporte, aliás, é motivo de orgulho para Playboy: “Joguei no time onde o Adriano era mascote”, disse com orgulho em referência ao amigo, craque da Internazionale de Milão e da seleção brasileira.

Na adolescência, poderia ter ido pelo caminho das drogas e do crime, como muitos de seus amigos do Alemão, mas preferiu apostar na música. O ídolo daquela geração era Michael Jackson, e Playboy passava horas do seu dia assistindo aos clipes do cantor americano. O apelido, aliás, vem desta fase, pois ele sempre gostou de se vestir “na moda”. “Só lamento que muitos dos meus conhecidos não estejam mais aqui para ver o que aconteceu comigo”, disse o rapper.

Foi nessa época, também, que ele começou a escrever suas músicas, buscando refletir nas letras um pouco do cotidiano de quem mora numa típica favela carioca – pobreza, discriminação e violência. A carreira despontou após um concurso entre MCs em Olaria, subúrbio do Rio, de onde saiu com o primeiro lugar e a certeza de que tinha talento. “Naquele dia eu fiquei conhecido na comunidade e começaram a aparecer convites para shows”, lembra Playboy. Em pouco tempo estava com suas músicas em discos do DJ Tubarão e da Furacão 2000, equipe de som que produz coletâneas com os trabalhos dos rappers. ‘Rap da mudança’, ‘Complexo’ e ‘Por amor’ não pararam de tocar nas rádios do Rio.
E ele também não parou mais. Seu último grande sucesso é ‘Mercenária’ e, graças à música, ele faz mais de três shows por semana. Nos últimos tempos, Playboy, pai de cinco filhos entre idades de 4 e 22 anos (ele fez questão de dizer o nome de todos: Anderson, Camilla, Rodrigo, Natália e Vitória), tem se dedicado às crianças e pretende até fundar uma ONG para ajudar àquelas mais necessitadas. Experiência neste tipo de trabalho social não lhe falta: além de ter sido coordenador do AfroReggae, ele também está envolvido com o projeto ‘Raízes em Movimento’, que lida com artistas grafiteiros que contribuem com sua arte para dar vida às paredes crivadas de balas na favela.

O leitor pode até estar se perguntando o que um rapper do Rio de Janeiro está fazendo na página da seção ‘Artista da comunidade’… É que Playboy, com 22 anos de funk, realizou o seu sonho e está trazendo sua música para os EUA. Apadrinhado por Waguinho do Cavaco, ambos do Alemão, ele já se apresentou em Miami e está de malas prontas para New York, onde vai mostrar com o amigo o que chamam de ‘pago-funk’, uma união de gêneros e mistura de ritmos que vem agradando brasileiros e gringos. Os dois até já escreveram juntos uma música, sobre a morte da menina Isabella Nardoni. “Ah, que agonia. Mataram a Isabela na tremenda covardia”, diz um dos versos. O próximo show da dupla é no Brazilian Day e, finalmente, Manhattan vai conhecer ao vivo o funk carioca.

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