Histórico

George Zimmerman:

Antonio Tozzi

Okay, eu conheço o veredicto. George Zimmerman foi absolvido no sábado, dia 13 de julho, em um dos mais alardeados julgamentos realizados nos Estados Unidos nos últimos tempos.

O que se pretende discutir é se a decisão foi justa. Para as comunidades e líderes negros, a absolvição foi uma injustiça e a confirmação de que a vida de um negro vale menos do que a de um branco. Ou seja, tivesse Zimmermann atirado e matado um jovem branco seria condenado, com certeza. Será que isto é mesmo verdade?

Para entender o caso, vale a pena recapitular o que ocorreu na noite de 26 de fevereiro de 2012 em Sanford, na Flórida. Na ocasião, Zimmermann (misto de hispânico com judeu) patrulhava voluntariamente as ruas de uma área de Sanford, uma cidade perto de Daytona Beach, quando viu Trayvon Martin, um jovem negro, se aproximar. Após uma troca de insultos, o patrulheiro sacou uma arma e disparou contra Martin, matando-o.

Depois de ser capturado e admitir ter sido o autor do disparo, Zimmermann começou a viver um pesadelo. Ele passou a ser um personagem recorrente nos noticiários de todo o país. Os líderes negros, como disse, o acusaram de se racista. Isto é, ele apenas teria disparado a arma por se ver diante de um jovem negro. Em nenhum momento, ele teria tentado dialogar com Martin para evitar a morte do rapaz.

Atletas negros como LeBron, D-Wade, cantores, artistas, líderes comunitários, políticos e até mesmo o presidente Obama prestaram homenagem a Martin, guindado à posição de mártir da causa negra. Para desconstruir sua imagem, os advogados de Zimmermann levantaram a vida pregressa de Martin: ele estava em Sanford num dia de semana, em vez de estar frequentando aulas em Miami. Explica-se. Martin havia sido suspenso da escola por mau comportamento e teria ido a Sanford para visitar o pai que estava separado de sua mãe e vivendo com outra mulher. Além disso, ele já tinha passagens pela polícia de Miami por causa de pequenos furtos.

Aí, entra em cena outra discussão. Por que Zimmermann, um mero patrulheiro voluntário de vizinhança, estava armado com um revólver? Não seria mais lógico ele estar usando uma arma paralisante como um teaser em vez de uma arma letal? Este incidente trouxe à baila outra questão que divide os Estados Unidos: o direito de portar uma arma. Os favoráveis ao armamento da população argumentam que o cidadão tem direito de se defender conforme consta na Constituição dos EUA. Já os que pretendem revogar esta medida citam mais um caso onde uma morte poderia ter sido evitada, se Zimmermann não tivesse recorrido a uma arma letal.

Admito que me coloco entre aqueles que desejam a revisão do porte de arma indiscriminado. Ora, o princípio da autodefesa fazia sentido em 1776, época da independência americana, porque o país vivia uma terra sem lei, com desbravamento de regiões inóspitas. Então, era lógico as pessoas andarem armadas para se defender dos criminosos e de animais silvestres. Mesmo em áreas rurais, pode-se admitir o uso de armas, mas não nas zonas urbanas. Não no século XXI onde as polícias das áreas metropolitanas possuem armamento sofisticado e pessoal especializado no combate à criminalidade.

Essas duas premissas nortearam o julgamento de Zimmermann. Enquanto os negros e aqueles com identificação mais esquerdista clamavam pela condenação do “racista”, os conservadores defendiam sua absolvição, alegando a tese de autodefesa arguida por seus advogados na Corte. Tese que, por sinal, foi aceita pelas juradas que absolveram o acusado.

Particularmente, acho que a decisão da Corte foi muito generosa para Zimmermann. Ele não deveria ter sido condenado à prisão perpétua, mas também não deveria ter sido absolvido completamente.

Esta decisão provocou fortes reações em todo o país, com grupos inconformados fazendo protestos. O irmão de George afirmou temer por sua vida, uma vez que ele pode ser vítima de alguns radicais. Em entrevista à CNN, o irmão do acusado negou que ele seja racista como querem fazer crer os mais exaltados.

Na verdade, crimes que envolvem negros como vítimas geralmente dão mais repercussão, exatamente porque lideranças recorrem sempre à questão do racismo. Advogados lançam mão da race card para conseguir a condenação dos autores do crime. Desde que, é lógico, o autor de crime não seja outro negro, porque aí o argumento resvala para a desigualdade social e racial que impera no país.

Acho que está mais do que na hora de se ter uma discussão adulta sobre o tema. É inegável que o racismo é subjacente em algumas pessoas, mas também não se pode negar que muita gente fatura politicamente com a exacerbação do possível racismo. O certo seria haver uma trégua onde não se haja caça às bruxas (no caso dos brancos) nem tratamento inferior (no caso dos negros) porque somente assim a sociedade pode tornar-se melhor para todos os indivíduos.

Um pequeno erro não pode fazer alguém arder no fogo do inferno sem direito a perdão. Que o diga a chef Paula Deen…

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