Histórico

Imigração e a dança

Antonio Tozzi

Enquanto o projeto de lei sobre reforma imigratória redigido pelo chamado Grupo dos Oito circula pelo Comitê Judiciário do Senado, do lado de fora está aberta uma guerra de números e os lobbies dos dois lados movimentam-se para angariar simpatia para suas causas.

Um exemplo claro é o total de pessoas que são capturadas e aquelas que supostamente atravessam a fronteira entre México e Estados Unidos. Isso é muito importante porque uma das disposições do projeto de lei reza que os imigrantes indocumentados poderão finalmente dar entrada na papelada para regularizarem seus status depois que for decretada a segurança na fronteira sul.

Aí é que entra o jogo dos números. Os democratas, as organizações em defesa dos direitos dos imigrantes indocumentados e o governo garantem que o percentual de pessoas que entram nos EUA cruzando a fronteira é baixo. Isto porque o trabalho efetivo da patrulha da Fronteira (Border Patrol) impede a entrada ilegal de imigrantes desautorizados e detém entre 75 e 90% daqueles que ousam fazer esta perigosa aventura.

Entretanto, muitos parlamentares republicanos, rancheiros da fronteira e integrantes do Tea Party calculam que a Border Patrol consiga prender somente entre 10 e 20% daqueles que entram nos EUA ilegalmente.

Para dirimir as dúvidas e acabar com as discrepâncias, os parlamentares estão cobrando da secretária de Segurança Doméstica (DHS) um processo de medição que afira o percentual exato de indocumentados detidos. Janet Napolitano até mesmo concedeu um depoimento no Congresso garantindo que este processo não existe no momento, mas pode vir a ser implantado a fim de determinar a segurança da fronteira.

O projeto de lei provisiona uma verba suplementar de $4.5 bilhões exclusivamente para reforçar a segurança na fronteira, uma vez que o percentual de 90% é o número mágico para que os republicanos deem o sinal verde para a regularização dos indocumentados que estão vivendo no país. Dentro desta verba, há contingência para contratação de agentes, construção de muros e cercas, aviões de monitoramento, radar avançado e outros equipamentos de vigilância.

No entanto, isto tem deixado os agentes da Border Patrol preocupados. Shawn Moran, vice-presidente do sindicato dos agentes de fronteira, revelou que aquela determinação colocará ainda mais pressão sobre os agentes e eles temem que sejam obrigados a forjar números que caibam nas propostas políticas.

A Border Patrol tem cinco anos para chegar ao percentual de 90% de segurança na fronteira. Caso ao final deste período as metas não tenham sido atingidas, serão liberados mais US$2 bilhões que devem ser aplicados para corrigir os pontos falhos em outro período de cinco anos, quando haverá uma nova avaliação.

Apenas depois de todas as medidas terem sido tomadas é que o governo permitirá aos imigrantes serem regularizados e começar o caminho rumo à residência legal e posteriormente à cidadania americana. Como medidas exigidas, determina-se que o governo tenha implantado um novo sistema de rastreamento de pessoas que deixam o país por portos e aeroportos e uma exigência de que os empregadores recorram ao banco de dados do governo para verificar o status imigratório dos novos contratados.

Portanto, esses números inconclusos podem servir como uma arma para os inimigos da reforma imigratória. Eles afirmam que o percentual não foi atingido, assim torna-se impossível ajustar o status dos indocumentados. Além disso, pressionam os parlamentares republicanos que simpatizam com a ideia de tirar das sombras cerca de onze milhões de pessoas.

O caso mais recente foi o do senador republicano Marco Rubio, da Flórida. Apoiado pelos radicais direitistas do Tea Party, ele jurou ser contra os ilegais. Depois de eleito, no entanto, modificou seu discurso e integrou até mesmo o Grupo dos Oito, juntamente com os republicanos John McCain (AZ), Jeff Flake (AZ) Lindsey Graham (SC) e os democratas Charles Schumer (NY), Robert Menendez (NJ), Michael Bennet (CO) e Dick Durbin (IL). Agora, ele tem de enfrentar semanalmente um protesto de membros do Tea Party, indignados com sua postura, chamando-o de traidor de suas causas.

Logicamente, Rubio tem pretensões políticas. Ele é apontado como um provável candidato a presidente ou vice na próxima chapa republicana que estará disputando a eleição presidencial de 2016 e evidentemente não quer prejudicar suas chances ao ir contra a maré atual. Afinal, ele é cubano-americano e quer angariar votos do eleitorado latino, algo que seria muito difícil caso tivesse ficado contra a aprovação de uma reforma imigratória.

Isso serve para dar uma ideia da polarização em que se encontra os EUA. De um lado, os mais conservadores que resistem ao máximo abrir concessões àqueles que quebraram as leis americanas; de outro, os que consideram ter os indocumentados sofrido bastante e por isto está mais do que na hora de corrigir esta injustiça social que, além do mais, servirá para dar um impulso econômico à nação.

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