Histórico

Imigrantes não roubam trabalhos de americanos

Estudo refuta postura anti-imigrante e desfaz mito de que estrangeiros tiram empregos dos nativos

Os trabalhadores estrangeiros não estão substituindo os operários nascidos nos Estados Unidos, como asseguram alguns grupos anti-imigrantes, revelou um estudo difundido nesta segunda-feira (14) em Washington pelo Centro Hispânico Pew.

O relatório contém provas abundantes de que não existe relação entre o rápido aumento da população de origem estrangeira e os obstáculos para obter trabalho enfrentados pelos trabalhadores americanos.

A tese de que os estrangeiros tiram oportunidades de emprego dos operários nascidos nos Estados Unidos é argumentada pelos setores ultraconservadores, que se opõem ao Congresso que pretende aprovar uma reforma imigratória ampla que inclua uma via para a legalização de milhões de indocumentados que vivem neste país.

Alguns legisladores republicanos, entre eles James Sensenbrenner (Wisconsin) e Tom Tancredo (Colorado), e grupos como Minuteman, afirmam que os estrangeiros tiram os postos de trabalho dos americanos, argumento invalidado pelo relatório do Centro.

Os anti-imigrantes consideram que este suposto fenômeno trabalhista também contribui para o aumento do desemprego entre os cidadãos dos Estados Unidos. O Centro Pew é um grupo de pesquisas não partidário baseado em Washington e sustenta suas afirmações com estatísticas e outros dados oficiais recolhidos entre 1990 e 2000, e o posterior período de recessão econômica e gradual recuperação até 2004.

Alguns detalhes do relatório – A análise assegura que entre 1990 e 2000, 25 por cento dos trabalhadores nascidos nos Estados Unidos viviam em estados com condições favoráveis de trabalho para eles, apesar do rápido aumento da população estrangeira nestas zonas. Nesta década, só 15 por cento dos trabalhadores americanos residiam em estados onde o aumento da população de origem estrangeira se relacionava com conseqüências negativas para os trabalhadores deste país.

Os 60 por cento restantes dos trabalhadores nativos dos Estados Unidos, complementa o estudo, haviam optado por estados onde era difícil obter emprego mesmo quando o crescimento demográfico de nascidos em outros países estava abaixo da média.

Os autores do estudo, Rakesh Kochhar e Roberto Suro, diretores do Centro Hispânico Pew, explicaram numa conferência de imprensa que uma situação similar ocorreu no período de 2000 a 2004.

Eles precisaram que o tamanho da força de trabalho dos nascidos no exterior não se relaciona com as perspectivas de emprego para os trabalhadores dos Estados Unidos.

Sem conseqüências negativas – Por outro lado, a investigação também revelou que a relativa juventude e o baixo nível de educação entre os trabalhadores estrangeiros não têm conseqüências negativas na obtenção de trabalho por parte dos operários americanos em condições similares de idade e nível de educação.

Para os analistas do Centro Pew não existem pautas consistentes que mostrem consistentemente que os trabalhadores nascidos nos Estados Unidos “sofram ou se beneficiem” do incremento no número da população estrangeira.

O estudo assinala que na Carolina do Norte, Tennessee e Arizona os imigrantes registraram un impacto negativo na consecução do emprego por parte dos nacionais que contabilizavam, em conjunto, os 15 por cento da força de trabalho nestes estados entre 1990 e 2000.

Outros quatorze estados com acelerado crescimento do número de imigrantes, entre eles Texas, Nevada e Geórgia, com 24 por cento de trabalhadores americanos, não mostraram nenhum obstáculo para a obtenção de emprego para os locais, na mesma década.

Alta média de emprego – Nestes dez anos, o aumento da população do exterior ficou abaixo da média nos 16 estados com altas médias de emprego para os nativos, que constituíam 23 por cento da força trabalhista nesta região. Entre estes estados figuravam Illinois, Michigan e Virginia. No mesmo período houve um lento crescimento do número de imigrantes no Distrito de Columbia e em outros 12 estados, entre eles Califórnia, New York, New Jersey e Flórida.

Apesar disto, 38 por cento da força trabalhadora dos Estados Unidos nestas áreas enfrentaram obstáculos para a obtenção de trabalho, destacou a pesquisa. Um relatório anterior do Centro, publicado em dezembro, revelou que o número de indocumentados nos Estados Unidos gira em torno de 12 milhões e a maioria é originária do México.

Onde está a reforma – O relatório do Centro apareceu seis semanas depois do líder da Câmara de Deputados, Dennis Hastert (republicano de Illinois), ter sustado a convocatória do Comitê de Conferência e ordenado a realização de audiências públicas para discutir a reforma imigratória.

Em 16 de dezembro a Câmara de Deputados aprovou uma versão que entre outras medidas criminaliza a estadia indocumentada, acelera as deportações e castiga aqueles que ajudem ou dêem emprego a um indocumentado.

Cinco meses mais tarde, dia 25 de maio, o Senado aprovou uma versão diferente que rechaça a criminalização e abre uma via para legalizar a maioria de indocumentados que vivem nos Estados Unidos, pagam impostos e carecem de antecedentes criminais.

Hastert, contrário à postura da Casa Branca, se opõe a este plano e favorece a versão da Câmara Baixa. A administração do presidente George W. Bush, por sua vez, apóia a versão do Senado e pede ao Congresso que vote a favor de uma reforma ampla e humana, mas que inclua um programa de segurança que detenha a imigração indocumentada.

As audiências públicas poderão ser concluídas em setembro, mas fontes do Congresso assinalaram ser pouco provável que a reforma imigratória seja aprovada antes das eleições marcadas para o dia 7 de novembro.

Caso Hastert convoque o Comitê de Conferência, esta instância harmonizará as versões aprovadas pelas duas câmaras e redigirá uma versão final que deve ser aprobada pelos plenários da Câmara de Deputados e do Senado.

Posteriormente, a versão definitiva será enviada para assinatura do presidente Bush a fim de se converter em lei.

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