Histórico

Juarez Tomaz da Silva

Juarez e música: paixão eternal

Antonio Tozzi

É comum conhecermos pessoas que passaram a vida trabalhando para se sustentar, criar seus filhos e adquirir bens materiais confessarem no final que trabalharam em uma profissão que não gostavam ou fazendo o que não queriam. Resignados, porém, aceitam o fato como obra do destino.

Não deixa de ser gratificante, no entanto, quando encontramos alguém que se vangloria de ter vivido às custas de seu talento de maneira digna e recompensadora. Este é o caso de Juarez Tomaz da Silva, mineiro de Belo Horizonte, que desde cedo toca na noite. Inicialmente, na capital mineira e depois em Broward.
Aliás, foi com a música que comprou seu imóvel e cuidou dos filhos – André, que vem dedicando-se à música como o pai, e as gêmeas Ana Cristiane e Cristiana, que estão cursando Medicina. Apesar de se considerar bem sucedido, Juarez admite: nem sempre foi fácil.

Sua carreira começou aos 16 anos de idade no Clube Labareda, um local que hoje pertence ao Clube Atlético Mineiro, por sinal, o time do coração de Juarez. Ele ainda se lembra de um episódio quando tocava contrabaixo no Labareda, com apenas 16 anos de idade. Aí teve uma batida policial e o pessoal do clube teve de escondê-lo dentro da caixa de suporte do órgão. “Como sempre fui miudinho não foi difícil me enfiar lá até que os policiais fossem embora. Os órgãos de antigamente eram enormes, tinham aquela caixona embaixo, não eram como os de hoje, apenas o teclado”, explica Juarez, atualmente com 51 anos de idade.

O dono do Labareda também possuía uma boate, onde ele se apresentava. Depois, foi convidado a tocar na Playboy – a melhor boate de Belo Horizonte, na época – e no Sambão.

Logo, Juarez sentiu que podia partir para um projeto próprio. Assim, nasceu o JT Trio (com Juarez Tomaz e mais dois instrumentistas). “Éramos três, mas fazíamos um som de banda completa. E saíamos tocando em bailes, formaturas e outros eventos”, lembra. O sucesso do JT Trio não passou despercebido. Logo, o dono do restaurante espanhol El Cordobés contratou o grupo para cuidar da parte musical da casa. Foram 15 anos de parceira, que permaneceu até mesmo depois do restaurante ter trocado de nome para Los Remos.

De tanto vivenciar o clima de restaurantes, bares e boates, Juarez se uniu a outros dois sócios para abrir um restaurante/pizzaria em Belo Horizonte, em 1987. O empreendimento, porém, fracassou, em parte pela inexperiência dos donos e também porque Juarez cuidava mais do aspecto musical do que movimento financeiro.

Surge o Tropicana – A desilusão com o insucesso empresarial abriu espaço para Juarez aceitar o convite feito por Tony Passos e Humbertinho para que viesse para os Estados Unidos. Eles já viviam aqui há algum tempo e conheciam os donos do Tropicana – uma das casas mais famosas de Broward, cujo imóvel será demolido em breve. Certamente, ele não teria problemas para entrar no elenco musical do Tropicana, misto de restaurante e casa de show brasileiros.

Realmente, Juarez logo passou a integrar a equipe de músicos que se apresentava no local. Todavia, como havia muitos artistas, os donos organizaram um revezamento. Quarenta e cinco dias depois, ele decidiu voltar a Belo Horizonte, onde deixara sua família.

O destino, porém, apontava para os Estados Unidos. Dois meses depois de seu retorno, dona Maria, a proprietária do Tropicana, ligou para Juarez pedindo que ele voltasse. Ela admitiu que havia mesmo um excesso de músicos, mas como havia gostado bastante dele decidiu contratá-lo. Aí, toda a família mudou-se para Broward. Juarez passou, então, a tocar sete dias por semana. “Sete não, oito, porque aos domingos tocava também no horário de almoço”, corrige.

Como o salário não era suficiente, ele passou a fazer alguns bicos num condomínio para reforçar o orçamento familiar. Entretanto, passou a dar sinais de cansaço e chegou a cochilar nos dois empregos. “Aí, o Tinho (filho da dona Maria) perguntou quanto eu ganhava no condomínio e cobriu a oferta. A partir daí, pude me dedicar somente ao Tropicana. Foram mais de três anos tocando lá, direto”, conta.

Escola de música – Após a saída do Tropicana, passou a peregrinar pelos restaurantes brasileiros. Tocou cinco anos no Panorama, no Café Mineiro, três no Renascer, um no Feijão com Arroz, e também no Oba Oba. Atualmente, Juarez se apresenta nestes dois. Às sextas-feiras, toca no Oba Oba; aos sábados, no Feijão com Arroz, das 8 às 11 da noite, e no Oba Oba, da meia-noite às três da madrugada. Sempre com a cantora Sirlene Torres.

Há algum tempo, Juarez montou a Florida Musical Center, uma escola de música voltada prioritariamente para brasileiros, embora conte também com alunos de outras nacionalidades. É uma espécie de filial da Musical Center, aberta em Belo Horizonte pouco antes de vir para os EUA.

A escola funciona no período vespertino. Juarez já obteve até mesmo autorização para pegar as crianças que estudam nas proximidades da escola, que fica em Deerfield Beach. Agora, no verão, abrirá também de manhã para dar aulas de Português às crianças brasileiras que precisam manter o idioma.

Florida Musical Center dá aulas de piano e teclados, canto e canto coral e instrumentos de corda, além de bateria. “As aulas são dadas por professores especializados. Não acredito neste negócio de um só professor ensinar tudo. Sempre a pessoa destaca-se mais num tipo de instrumento”, observa Juarez. As aulas de música custam US$ 120 por mês, com duas aulas por semana.

Lançamento de disco – E a cada seis meses ele prepara uma apresentação das crianças no Oba Oba, quando elas sobem no palco e mostram para os pais e convidados o que aprenderam no curso. “Eles tremem, mas é importante sentir o clima de palco, viver outra experiência, em vez de tocar apenas em casa para os pais”, filosofa o dono da escola.

Seu próximo projeto é a apresentação do CD, intitulado “Juarez, Sirlene & Amigos”. O disco será lançado oficialmente no Café Mineiro, dia 24 de junho, a partir das 8 horas da noite. “É um disco muito gostoso, com vários convidados. Eu e Sirlene fizemos questão de chamar todos que sempre nos deram uma força: Tony Passos, Jurandi, Clara Telles, Tania, Eduardo, Bianca Brasil (minha nora) e Marquito (dono do estúdio)”, diz Juarez.

Aliás, o CD (patrocinado pelo Café Mineiro, Padaria 2000, Express Insurance, e Viviane, Tati e Mel Brum) reúne uma coletânea de vários ritmos musicais – a versatilidade sempre foi uma característica do trabalho de Juarez, que sempre fez questão de acrescentar músicas novas a seu repertório. “Gostaria de convidar os brasileiros ao Café Mineiro para prestigiar um momento especial nosso, que gostaríamos de compartilhar com todos”.

E amigos é o que não falta, porque ele foi o pioneiro dos artistas comunitários e é visto como um veterano pela maioria dos jovens músicos que abrilhantam as noites floridianas dos brasileiros.

Ok, então, estamos combinado, Juarez. Café Mineiro, dia 24 de junho, 8 horas da noite. Confirmado!

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