Matéria de Julia Preston, especialista em imigração do New York Times, analisa o novo momento do GOP
Os republicanos no Congresso que estão estudando os resultados de duas eleições para governadores em New Jersey e na Virgínia nesta terça-feira (5) estão vendo dois casos de teste nitidamente diferentes em relação à forma como o partido deve comportar-se no tema imigração.
Em New Jersey, o governador Chris Christie foi impulsionado por uma vitória consagradora de mais de 20 pontos, em parte porque ele ganhou metade dos eleitores latinos, enquanto sua rival democrata, a senadora estadual Barbara Buono, conquistou 46 por cento deste votantes. De acordo com as pesquisas, Christie melhorou entre os latinos em 18 pontos percentuais em comparação à primeira eleição para governador em 2009.
Na Virgínia, o conservador advogado geral do estado, Kenneth T. Cuccinelli II, perdeu por pequena margem a eleição para governador para o candidato Terry McAuliffe, um veterano arrecadador de fundos para os democratas, em parte porque os eleitores latinos foram cruciais nas áreas urbanas e votaram maciçamente contra Cuccinelli.
Nos dois estados, os eleitores latinos disseram terem sido fortemente influenciados pela postura dos republicanos sobre imigração.
“Acredito que o partido nacionalmente deve absorver a inspiração com aquilo que Christie fez”, disse John Feehery, um estrategista republicano. “A principal lição é que você não pode ir até as comunidades latinas seis meses antes da eleição e dizer, ‘Ei, preciso de teu voto’”, analisou. “Acho que a reforma da imigração cabe neste cotexto.”
Os líderes republicanos na Câmara de Deputados estão encarando uma pressão constante de um amplo espectro formado por empresários, sindicatos de trabalhadores e grupos religiosos para submeter o projeto de lei sobre imigração à votação nas próximas semanas, incluindo algumas medidas para lidar como os 11.7 milhões de imigrantes que estão aqui ilegalmente. Na quarta-feira (6), a AFL-CIO anunciou que investirá em propaganda para forçar os republicanos a tomar atitude em relação à imigração na Casa. Em Chicago, cerca de 150 manifestantes foram presos depois de terem bloqueado um cruzamento movimentado ao conclamar a Câmara Baixa a votar sobre este tema.
O presidente da Casa John A. Boehner, republicano de Ohio, tem dito estar “esperançoso” de que a Casa atuará antes do fim do ano. Mas os líderes republicanos estavam esperando para ver como os resultados das eleições para os governos nos dois estados afetariam a decisão do partido.
Christie aumenta cacife eleitoral
A reeleição de Christie, que o catapultou ao nível de candidato à presidência, consolidou-se depois de uma campanha para alcançar os latinos, que representaram 9 por cento dos eleitores na terça-feira. Ele teve um diretor dedicado a falar com os latinos e começou a veicular anúncios em espanhol em maio.
Christie chegou à eleição com um recorde em imigração que estava surpreendentemente em desacordo com as opiniões dominante em seu partido. Há muito tempo, ele tem apoiado um caminho para a cidadania para os imigrantes ilegais, ao contrário de muitos republicanos. Durante a campanha, ele disse que New Jersey deveria oferecer bolsas de estudo para as faculdades estaduais a jovens imigrantes indocumentados, os chamados Dreamers. Pelos seus esforços, Christie ganhou o reconhecimento da Aliança de Liderança Latina de New Jersey, uma significativa organização hispânica.
“Vá procurar outro republicano na América que tenha ganho o voto latino vote recentemente”, disse Christie nesta quarta-feira (6) durante visita à José Martí Freshman Academy em Union City, uma fortaleza hispânica. “Você chega, constroi relacionamentos, constroi confiança, e depois pessoas estão prontas a dar a você uma oportunidade.”
O castigo
Na Virgínia, onde os latinos foram apenas 4 por cento dos votantes, a campanha de Cuccinelli devotou pouco esforço a estes eleitores. Ele também tinha um recorde de posições enérgicas sobre imigração. Como senador do estado em 2009, Cuccinelli patrocinou uma resolução estimulando o Congresso a emendar a Constituição para negar cidadania aos filhos de imigrantes ilegais. Ele votou contra projeto de lei para concessão de bolsa estadual na Virgínia.
A campanha de McAuliffe e a People for the American Way, um grupo liberal que o apoiou, dinamitou Cuccinelli entre os latinos com um anúncio no qual lançou um holofote sobre um comentário improvisado feito por Cuccinelli em uma entrevista de rádio na qual equipara a política de imigração com o controle de ratos.
McAuliffe e várias organizações latinas investiram nos esforços de comparecimento, calculando que a população hispânica na Virgínia está crescendo vertiginosamente, aumentando em mais de 90 por cento de 2000 para 2010. Embora o número de latinos votantes tenha sido pequeno, eles foram fortemente a favor de McAuliffe, de acordo com Gary M. Segura, chefe da Latino Decisions, organização de pesquisa, que realizou entrevistas com latinos na véspera da eleição. Baseado em seus dados, Segura estimou que os latinos responderam por 35,000 dos quase 55,000 de votos que significou a estreita margem de vitória de McAuliffe.
“Acredito que isto será um impulsionador”, disse Tamar Jacoby, republicana que é presidente do ImmigrationWorksUSA, organização de pequenos empresários que é a favor da aprovação da imigração. Ela disse que vários líderes de expressão da Câmara —Boehner, Eric Cantor, o líder da maioria, deputado Robert W. Goodlatte, presidente do Comitê Judiciário — demonstraram estar prontos a dedicar-se à imigração. Dois deles, Cantor e Goodlatte, são da Virgínia.
“A mensagem está infiltrando-se” entre os republicanos da Câmara sobre a importância estratégica dos latinos, disse Jacoby, “e isto ajudará a lembrá-los.”