Histórico

Mais denúncias de mau tratos na fronteira

Organização acusa policiais de abusos verbais contra imigrantes

Uma organização humanitária acusou policiais que atuam na fronteira entre os Estados Unidos e o México de abuso verbal contra os imigrantes que estão sob custódia. Segundo os ativistas, os patrulheiros no estado do Arizona também costumam deixar os indocumentados sem água ou comida por dias. As denúncias fazem parte de um documento de 104 páginas, compilado a partir dos depoimentos de três mil imigrantes atendidos nos albergues mantidos pela entidade.

De acordo com o informe, aos imigrantes que tentam cruzar a fronteira e permanecem sob custódia na Patrulha da Fronteira mesmo por curtos períodos são negados os mais básicos direitos. “Muitos chegam com marcas roxas pelo corpo, famintos e com muitas feridas nos pés de tanto caminhar pelo deserto”, contou um dos ativistas do grupo ‘No Más Muertes’. Estes indocumentados, que costumam ficar menos de 72 horas sob custódia dos policiais antes de serem deportados, não têm acesso a comida, água e atendimento médico e ainda sofrem com a crueldade dos policiais, segundo o relatório.

Uma médica do grupo, Maryada Vallet, que recebe imigrantes feridos nos albergues estabelecidos nas cidades fronteiriças de Nogales, Agua Prieta e Naco, no estado de Sonora, confirmou os informes. Ela conta que muitos reclamam dos abusos físicos e verbais e da separação dos membros da família. Há queixas também de que as mulheres e crianças são sempre deportadas durante a madrugada, indefesas, o que aumenta os riscos de serem vítimas de outros problemas. “E na maioria das vezes sem dinheiro ou documentos”, conta Vallet.

Testemunhos

Alguns testemunhos chamaram a atenção dos ativistas. Em um deles, os imigrantes contam que foram obrigados a correr no mesmo lugar (como se estivessem numa esteira ergométrica) por cerca de meia hora, depois de dias passados no deserto. Durante o ‘exercício’, um dos agentes falava que aquela era uma punição para que todos aprendessem que não deveriam tentar a entrada ilegal na América de novo.
O documento produzido pelo ‘No Más Muertes’ está sendo distribuído aos sub-comitês do Departamento de Segurança Nacional, em Washington DC, e a representantes da Anistia Internacional. “Queremos que o mundo saiba do tratamento desumano que os imigrantes sofrem na fronteira, através das palavras das próprias pessoas que sofreram os abusos”, afirmou o congressista Raúl Grijalva, democrata do Arizona. Ele garantiu que cada membro do Congresso americano vai receber uma cópia do documento e assinalou que pretende entregar uma ao secretario de segurança nacional, Michael Chertoff.
“Estamos diante de uma crise humanitária da qual ninguém quer falar”, acrescentou Grijalva. Na opinião dele, o governo federal deveria se preocupar com os problemas pelos quais passam os imigrantes na fronteira, bem como pelas repetidas mortes registradas no deserto do Arizona. “Trata-se de uma questão de direitos humanos. A situação atual é como se a vida não tivesse valor naquela região”, enfatizou o congressista.

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