Histórico

Miami também sofre com favelização

Mais de 80 pessoas, a maioria delas com antecedentes criminais, vivem debaixo de pont

Um dos cartões postais do sul da Flórida está sofrendo com o problema de um fenômeno social mais comum nos países subdesenvolvidos: há quase uma centena de pessoas vivendo sob a Julia Tuttle Causeway, ponte que liga Midtown Miami a Miami Beach, amontoadas em barracos, tendas e até abrigos de papelão. Os residentes são, em sua maioria, homens condenados por abuso ou ofensas sexuais, que durante a liberdade condicional – por força de uma lei local – estão impedidos de morar a menos de 2.500 pés (ou 762 metros) de escolas, parques e qualquer outro lugar com presença de crianças. Como não são aceitos em outras comunidades, acabam se estabelecendo debaixo da ponte.

A situação tem gerado muito debate entre as autoridades policiais, os legisladores e a sociedade em geral. O chefe da Polícia de Miami, John Timoney, admite que a situação preocupa e já comunicou o problema às autoridades municipais e até da administração do governador Charlie Crist. “É como uma batata quente, todo mundo quer passar adiante”, comparou Timoney. No início do mês, os policiais foram chamados para impedir uma tentativa de suicídio e, dias depois, para acabar com uma briga entre dois moradores do ‘favelão’.

O número de indigentes no local cresce a cada dia. “A verdade é que, se traçarmos um círculo em volta de cada parque, creche e escola, praticamente não sobra lugar para eles”, afirma Joellyn Rackleff, do departamento penitenciário de Miami. O vereador (commissioner) Jose Diaz, que apresentou a proposta de ampliação do limite para 2.500 pés, preferiu lavar as mãos. “Se esta medida ajudou a salvar alguma criança eu considero que cumpri meu dever”, disse.

Um dos moradores do local é Abelardo González, que passou 13 anos na prisão por tentiva de estupro de uma menina de 12 anos. Ao ganhar sua liberdade condicional, no início do ano, ele tentou voltar para sua casa, em Hialeah, mas descobriu que não poderia passar sequer uma noite lá: a residência fica próxima a uma escola. “Mesmo já tendo cumprido minha dívida com a sociedade pelo crime que cometi, não posso voltar a viver normalmente”, lamentou.

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