Histórico

O mundo se despede de Boris Yeltsin

Milhares de pessoas acompanharam, nesta quarta-feira em Moscou, o funeral de Boris Yeltsin, o primeiro presidente da Rússia independente depois da desintegração da União Soviética.
A cerimônia, com participação do presidente da Rússia, Vladimir Putin, foi realizada na Catedral de Cristo o Salvador, reconstruída na administração de Yeltsin depois de ser demolida durante o domínio soviético e um símbolo da era pós-comunista.
A catedral havia sido destruída em 1931 sob o comunismo, mas foi reerguida nos anos 90.
O corpo do ex-presidente será sepultado no cemitério de Novodevichye, em Moscou, ao lado de atores e escritores, ao invés da Praça Vermelha, onde os ex-líderes soviéticos são enterrados.
Yeltsin, que tinha um histórico de problemas no coração, morreu de insuficiência cardíaca, aos 76 anos, em um hospital da capital russa na segunda-feira.
Carismático mas imprevisível, ele trouxe liberdade sem precedentes para a Rússia, mas um Estado fraco e corrupto levou a questionamentos sobre os benefícios da liberdade.
Entre as celebridades que compareceram ao funeral estavam os ex-presidentes americanos George Bush (pai do atual presidente) e Bill Clinton.
De acordo com a agência de notícias russa Tass, o atual presidente russo Vladimir Putin fez um tributo ao ex-presidente, dizendo que sob a liderança de Yeltsin a Rússia entrou em “uma total nova era”.
Putin disse também que seu antecessor deixou como herança um Estado em que “o poder pertence verdadeiramente ao povo”.
Três bispos da Igreja Ortodoxa Russa irão coordenar o serviço religioso, no primeiro funeral cristão de um líder do país desde 1917, quando aconteceu a Revolução Russa.
O enterro será transmitido ao vivo pela televisão.

Privatizações e Chechênia
Foi durante o governo de Yeltsin que a Rússia viveu um processo de privatizações que fez surgir uma poderosa oligarquia no país.
Algumas das principais estatais soviéticas foram vendidas para investidores russos, hoje bilionários. Até hoje, a forma como ocorreram as privatizações gera críticas de analistas, dentro e fora do país.
O ex-presidente também é lembrado por ter lançado, em 1994, a primeira ofensiva militar na Chechênia, a república separatista do Cáucaso. A ofensiva terminou sem vitória russa e com centenas de mortos.
Yeltsin admitiu que as mortes na Chechênia eram o maior peso na consciência que ele tinha que enfrentar, mas salientou que não tinha alternativa a não ser a de agir contra os ativistas chechenos.
“Eu não posso me eximir da culpa pela Chechênia, pela dor de numerosas mães e pais”, disse Yeltsin em uma entrevista a um canal de TV russo em 2000. “Eu tomei a decisão, de forma que sou eu o responsável.”
Liberdade e bebida
Por outro lado, de acordo com o analista de assuntos relativos à Rússia da BBC Steven Eke, sob a liderança de Yeltsin o país viveu o período de maior liberdade política de sua história.
Os meios de comunicação, especialmente a televisão, podiam criticar as autoridades, até mesmo o presidente, de uma forma que as próprias autoridades não consideravam possível, disse Eke.
Outra característica de Yeltsin era seu carisma e comportamento por vezes excêntrico.
Durante sua campanha pela reeleição em 1996, ele chegou a dançar rock em um palco – uma cena transmitida à exaustão pelas TVs de todo o mundo.
Yeltsin também não escondia o fato de gostar de beber e o hábito pode ter colaborado para piorar sua saúde.

Morre o ex-presidente russo Boris Yeltsin

Compartilhar Post:

Baixe nosso aplicativo