Restaurante ‘Cabana Carioca’ e sua proprietária, Maria Emília Torneiro, recebiam celebridades na década de 60
Na década de 60, quando a comunidade brasileira em New York se limitava a um pequeno grupo de pessoas que se reuniam em bares após o expediente de empresas como a então poderosa Varig, um restaurante com comidas tipicamente nacionais fez muito sucesso, especialmente entre os gringos e personalidades famosas. O ‘Cabana Carioca’ foi um dos primeiros estabelecimentos brasileiros no coração de Manhattan, na Rua 45, a um quarteirão do Times Square, e a responsável pelos quitutes era Maria Emília Torneiro, que hoje vive no sul da Flórida.
Aos 81 anos de idade, a brasileira – nascida no Rio de Janeiro, mas criada em Belo Horizonte – guarda com carinho, em sua casa de Pembroke Pines, um livro com mais de uma centena de autógrafos e bilhetes de gente como os músicos Baden Powell e Sivuca, a cantora Elza Soares, o político Carlos Lacerda e o maestro Isaac Karabtchevsky, entre outros. Todos eles ficaram encantados com o tempero e a simpatia de Maria Emília, herdados principalmente da mãe, que fazia os salgadinhos para as festas da sociedade mineira na primeira metade do século passado.
“A melhor recordação é uma carta de Juscelino Kubitschek, elogiando a minha feijoada”, diz ela, lembrando de um dia em 1966, quando o ex-presidente, convalescendo de uma operação em um hotel das imediações, exigiu como refeição o feijão com couve do ‘Cabana’. Por falta de tigelas plásticas (tupperware), o ‘delivery’ foi feito nas próprias panelas do restaurante.
Maria Emília conta que pagava apenas 300 dólares de aluguel pelo ponto, mas jamais ganhou muito dinheiro com o business. ‘Era uma época diferente, mas o restaurante foi uma referência para a comunidade, apesar da simplicidade e do chão de madeira. Acho que hoje eu seria milionária”, ressalta, sem esquecer que anos depois do fechamento do ‘Cabana’, em 1971, a região ganhou fama e até uma rua brasileira – a 46th Street, chamada de Little Brazil. “Nosso ponto de encontro era no Cabana”, atesta o jornalista Al Sousa, que viveu em New York naquela época.
Para ela, o sucesso do restaurante estava na variedade do cardápio: “A cada dia eu fazia três pratos diferentes, além dos já previstos no menu, como vatapá e feijão tropeiro”. A diversidade de opções, porém, não impedia que muitos clientes famosos fizessem pedidos extravagantes, como o violonista Luiz Bonfá, que fazia questão da galinha ao molho pardo, pouco comum na América.
A fama do ‘Cabana Carioca’ não se limitou apenas aos brasileiros. O músico porto-riquenho Jose Feliciano, o jornalista cubano Ramos Calhelha e o empresário americano Mike Lu também batiam ponto no restaurante. “A comida era realmente muito boa”, assume, sem falta modéstia, a sua ex-proprietária. Maria Emília, no entanto, não tem saudades daquele tempo. “Eu trabalhava muito na cozinha e meu marido gostava mais de ficar batendo papo com os clientes”, lembra, sorrindo.
Hoje, com as duas filhas e os dois netos vivendo aqui na Flórida, ela se diz realizada e não faz muitos planos para sua terceira idade. A ex-comissária de bordo, que conheceu o marido durante uma pane imprevista na cidade de Caracas (Venezuela), em 1953, diz que quer vender o apartamento onde mora e, quem sabe, voltar a alguns dos lugares que conheceu por força da profissão, antes de se dedicar à culinária. “Queria viajar para Paris”, torce Maria Emília.
Por Carlos Wesley – AcheiUSA Newspaper