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Opinião: A pedra no sapato dos republicanos

Por Antonio Tozzi

Eles estavam tentando não tocar no assunto. Afinal, é algo que os coloca numa posição difícil. Mas não teve jeito. Ao chegar à Flórida os republicanos foram obrigados a responder perguntas sobre imigração e o que fazer com os milhões de imigrantes indocumentados que vivem atualmente nos Estados Unidos.

As respostas soam totalmente fora da realidade. Enquanto Rick Santorum e Ron Paul mantêm-se fieis ao ideário dos conservadores do Partido Republicano, os dois líderes na disputa pela indicação do GOP (Great Old Party) para concorrer com Barack Obama pelo direito de ocupar a Casa Branca no próximo mandato começam a emitir sinais confusos para o eleitorado.

Newt Gingrich, que havia dito antes ser favorável à legalização dos indocumentados que vivem aqui há muito tempo, endureceu um pouco seu discurso, talvez aconselhado por seus assessores para não assustar o eleitorado ultraconservador do Partido Republicano.

Mitt Romney, por sua vez, que havia declarado ser peremptoriamente contra qualquer medida que beneficie os indocumentados e está sugerindo algo tão esdrúxulo como a autodeportação, já está admitindo a concessão do Dream Act para os imigrantes indocumentados que quiserem ingressar nas Forças Armadas do país.

Ambos, no entanto, afirmaram ser contrários à extensão deste benefício aos jovens que desejam ir a uma universidade. Ou seja, valorizam mais aqueles que podem ser treinados para matar, sob o eufemismo de servir a pátria, do que aqueles que podem gerar cientistas, empresários e intelectuais que podem ajudar a melhorar a vida dos cidadãos que aqui vivem.

A verdade, porém, é que está ficando cada vez mais difícil ignorar os anseios dos eleitores latinos que a cada eleição vêm aumentando seu percentual de influência. Ou seja, a voz da comunidade latina vai ficando mais forte e está tornando-se impossível fazer ouvidos moucos às suas reivindicações.

Isto vem colocando inclusive muitas lideranças latinas republicanas em uma incômoda saia justa. Ao mesmo tempo em que não podem sair defendendo abertamente a legalização dos indocumentados, como fazem os parlamentares democratas, para evitar serem hostilizados pelos grupos anti-imigrantes que integram os republicanos, mormente o indigitado Tea Party, também não podem ser ostensivamente contrários aos desejos do eleitorado latino, sob pena de não conseguirem ser reeleitos.

Quem esteve no centro desta saia justa foi justamente o senador Marco Rubio. O cubano-americano, apoiado pelo Tea Party para derrotar o então favorito Charlie Christ, tenta agora contemporizar a guerra de informações travada entre Gingrich e Romney, ambos sabedores de ser este o momento crucial para garantir a vitória.

Pouco tempo atrás, havia poucas dúvidas de que Romney seria o ungido. Mas, após a vitória em South Carolina, Gingrich ganhou força e vem subindo nas pesquisas, beneficiado com as revelações de que Romney mantém uma parte significativa de sua fortuna em paraísos fiscais. Isto é, nem ele confia em manter todo seu dinheiro no país que quer governar e também está procurando alternativas para driblar o fisco americano, manobra que pode ser legal, mas com certeza não é moralmente bem aceita pelos eleitores.

Por sua vez, o presidente Barack Obama está aproveitando para surfar na onda da regularização dos imigrantes indocumentados. Para isto, ele conta com uma série de trunfos. Em primeiro lugar, quer resgatar uma dívida junto aos latinos que não pôde ser paga no transcurso de seu primeiro mandato. Em segundo, tem como mostrar que agiu com rigor para expulsar indocumentados com antecedentes criminais e apertou bastante o controle na fronteira. Por fim, tem os parlamentares de seu partido a apoiá-lo em sua maioria e, ao agir assim, certamente mantém a fidelidade dos eleitores a fim de lhe garantir um segundo mandato a partir de 2013.

Traduzindo, o pepino precisa ser descascado pelos candidatos republicanos. Se eles optarem por apoiar uma reforma imigratória ampla e abrangente, perderão o suporte dos ultraconservadores e se arriscam a não conquistar votos entre os latinos. Caso mantenham uma postura mais rígida em relação a este tema, afugentam alguns eleitores que poderiam simpatizar com sua plataforma eleitoral – algo que pode ser comprometedor em termos eleitorais, sobretudo nos chamados swing states, estados que não têm uma definição, como os blue states e os red states, nos quais todos sabem que candidato sairá vencedor. E, como se sabe, a eleição é decidida exatamente nos swing states, como é o caso da Flórida.

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