Por Adriana Sabino
– Você precisa moderar este seu entusiasmo e veemência – recomendou minha mãe.
Estávamos eu, ela e minha filha (ambas de visita a Miami), conversando em volta da mesa da cozinha sobre o assunto que mais me interessa no momento: as eleições presidenciais no Brasil.
Evidentemente, ignorei o conselho da minha mãe, pois sei que o meu entusiasmo e interesse são plenamente justificados. Estamos diante de eleições históricas!
Pela primeira vez duas mulheres disputam a Presidência, sendo que uma com reais chances de ser a primeira mulher presidente do Brasil. Além disso, depois de analisar a trajetória politica e a história de vida dos três principais candidatos, concluo que os três são muito capacitados para exercer o cargo.
Discordo, portanto, de vários amigos que declaram que nesta eleição não temos candidatos à altura do cargo e que lamentam a obrigatoriedade do voto. Explico a todos os que se dispõem a trocar idéias que, como adoro votar, nunca antes me senti tão feliz como eleitora:
– Imaginem, poder participar numa eleição histórica e ter três boas opções!
Torço para que haja um segundo turno, para podermos continuar uma saudável e democrática troca de idéias sobre o que nós brasileiros queremos para o nosso país. E lembro que para haver um segundo turno basta que nenhum dos candidatos receba mais do que 50% dos votos. Ou seja, precisamos que a soma dos votos de José Serra, Marina Silva e demais candidatos seja maior que 50% dos votos válidos.
A candidata Dilma Roussef, que lidera as pesquisas de intenção de votos com larga vantagem, é a herdeira escolhida pelo Presidente Lula, após o afastamento das suas escolhas naturais. Ela representa a continuidade do seu projeto de governo. Não votaria nela porque, embora com grande experiência executiva, ela jamais disputou nenhuma eleição e nunca teve um mandato eletivo. Além disso acredito que a alternância do poder, depois de oito anos, será benéfica para o país.
O candidato de oposição José Serra, em segundo lugar nas pesquisas, diz que está preparado para ser presidente. Ele foi secretário do governo de São Paulo, deputado, senador, ministro de planejamento e saúde no governo de Fernando Henrique Cardoso, prefeito de São Paulo e governador do estado de São Paulo.
Uma experiência realmente valiosa. Mas, não vejo nele a paixão necessária para ser o presidente do Brasil.
Marina Silva é a candidata que captura a minha imaginação e me entusiasma. Ela tem o meu voto. Sua história de vida personifica o que quero para o Brasil. Marina mostra como a educação abre enormes oportunidades no nosso país e que é possível atingir as mais altas posições com integridade.
Nascida num seringal do Acre, numa família pobre e numerosa, analfabeta até os 16 anos, com esforço e garra entra na sociedade brasileira pela porta da frente, graças à educação. Formou-se em História, militou contra a ditadura, tornou-se professora de História e se lançou no ativismo sindical. É eleita vereadora, deputada estadual e, aos 35 anos, a mais jovem senadora do Brasil. Ao longo da sua carreira política ela manteve uma notável coerência e integridade. Como ministra do Meio-Ambiente no Governo do Presidente Lula, ela conseguiu reduzir o desmatamento da Amazônia. Sua atuação foi reconhecida com prêmios de importantes organizações internacionais. Mas, quando ao tentar impor em cada projeto o respeito ao meio-ambiente, nota que não tem o apoio do Presidente, e prefere então se retirar do governo.
Como candidata do Partido Verde, Marina tem apresentado nos debates e sabatinas propostas concretas, idéias novas, sempre de uma maneira clara, mas envolvente. Sua visão das reformas política e tributária, essenciais para o país, são muito boas.
Gosto da generosidade com que ela reconhece as importantes conquistas dos governos de Fernando Henrique Cardoso e Lula. Admiro o pragmatismo dela, quando avisa que vai somar a essas conquistas. Sua visão de um desenvolvimento baseado nas novas tecnologias do século XXI e no respeito ao meio ambiente com sustentabilidade mostra que ela será a líder adequada para conduzir o país na nova ordem mundial.
Mas, é principalmente a certeza de que nenhum outro candidato entende o poder da educação como o mais importante instrumento de inclusão social e progresso individual que me faz votar em Marina.
Nunca, desde que voto para presidente do Brasil, um candidato me inspira tanto como Marina. Sou uma eleitora feliz em 2010.