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Painel debate opções de negócios com esportes no Brasil

Especialistas mostram oportunidades e maneiras de atuar com negócios na área esportiva em grandes eventos

Antonio Tozzi

Andrea Faria e Aloysio Vasconcellos, do BBGNo painel apresentado pelo Brazilian Business Group (BBG) e pela Brazilian International Foundation (BIF), realizado na quinta-feira de manhã (2) no Focus Brasil 2013, em Fort Lauderdale, o tema discutido foi “Brasil e Esportes – Uma Combinação Perfeita”, levando-se em conta a proximidade com três grandes eventos esportivos de grande magnitude que o Brasil sediará: Copa das Confederações, em junho deste ano; Copa do Mundo, no ano que vem, e Jogos Olímpicos de Verão, no Rio de Janeiro, em 2016.

Andrea Faria, presidente do BBG, e Aloysio Vasconcellos, chairman do BIF, convidaram Rodrigo Reis de Oliveira, ex-administrador do Projeto Copa para o Governo do Estado de Minas Gerais; Kenneth Shropshire, advogado do Escritório de Advocacia Duane Morris, especializado em legislação esportiva, e Felipe Lobo Faro, superintendente de Esportes do Santos Futebol Clube. O debate foi moderado pelo jornalista esportivo César Augusto Gomes, CEO da B2Conteúdo.

O primeiro palestrante foi Rodrigo Reis que apresentou dados bastante significativos em termos de infraestrutura e o que pode ser feito para participar da gorda verba reservada ao aprimoramento desta infraestrutura .

Ele abriu a apresentação com dados comparativos entre Brasil e EUA. Não dá para esconder que deu um certo desânimo ao vermos o quanto ainda há a se fazer para que o Brasil chegue perto do nível já alcançado pelos Estados Unidos, sobretudo em infraestrutura de transportes, que inclui portos, aeroportos, rodovias e ferrovias.

Momento oportuno para investir no Brasil

Apesar desses números, o palestrante destacou o progresso feito pelo Brasil em termos econômicos na última década, o que serve como incentivo para os investidores que estão em busca de novas oportunidades para investir o capital. E os valores são apetitosos:”“Estamos falando de um total de investimentos da ordem de $250 bilhões nos próximos quatro anos em infraestrutura”.

Ele identificou os diversos setores onde é possível fazer investimentos. Claro que a parte do leão fica mesmo com as grandes construtoras e desenvolvedoras, que estão tornando-se parceiras do governo através das PPPs (Parcerias Público Privadas). Ou seja, o governo não dispõe de capital suficiente para efetuar os investimentos necessários, então vem fazendo parcerias com investidores privados que querem aumentar a rentabilidade, em troca de benefícios para a sociedade.

Trocando em miúdos, o governo concede concessões a setores de infraestrutura como aeroportuário e rodoviário para que o país tenha condições de oferecer instalações apropriadas para receber os turistas. Assim, espera-se, que os aeroportos estejam funcionando adequadamente durante o período da Copa do Mundo. Vamos esquecer a Copa das Confederações, porque este prazo não foi cumprido.

Rodrigo Reis admite que as diferenças regionais do Brasil influenciam até mesmo no ritmo das obras: “Sou obrigado a reconhecer que a infraestrutura em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte está à frente (não por acaso são as três cidades com mais investimentos) das demais, mas não tenho dúvida de que todos os estádios estarão prontos até a Copa”. O problema é como transportar os torcedores/turistas em um país de dimensões continentais como o Brasil.

E o que mais preocupa Rodrigo é o fato da inexperiência dos brasileiros em termos de operação e logística em comparação com os países mais avançados: “De qualquer forma, é uma ótima ocasião para os investidores e prestadores de serviço”, comentou.

Legislação esportiva

O segundo palestrante, Kenneth Shropshire, abordou a maneira certa de uma empresa envolver-se com um evento esportivo. Para facilitar a explicação, ele dividiu a apresentação em sete lições.

A primeira delas é a avaliação por parte dos diretores da empresa sobre a adequação da marca ou de um produto da empresa àquele evento especificamente. A segunda lição também enfatiza a adequação. ““Não force uma conexão onde não haja sinergia”, aconselhou. Citou alguns casos de marcas e produtos que souberam capitalizar positivamente a conexão e outros que simplesmente fracassaram nesta tentativa.

A lição nº 3 indica que haja uma seleção do direito de envolvimento da marca com o evento e o contrato deve evitar ao máximo o marketing aproveitador, que consta como o número 4. Um exemplo é uma marca de material esportivo pagar pelo patrocínio e ver uma concorrente faturar com patrocínios individuais a atletas.

Aliás, a escolha de um atleta associado à marca é a lição nº 5. Embora seja possível capitalizar bastante com a fama e a visibilidade de determinado atleta, esta associação pode ser prejudicial em alguns casos. Um bom exemplo foi Tiger Woods, que tinha uma excelente imagem, e a manchou com o episódio de infidelidade.

A lição número 6 recomenda que uma empresa avalie cuidadosamente quais eventos e esportes deseja associar sua marca. Shropshire citou o caso da T-Mobile que retirou seu patrocínio às provas de ciclismo depois do escândalo de dopping dos ciclistas, entre eles, o supercampeão Lance Armstrong.

Por fiim, a lição nº 7. A recomendação do advogado é para que a empresa fique fiel ao seu negócio. A tentativa de aproveitar a oportunidade pode ser desastrosa se não for planejada antecipadamente.

Santos Futebol Clube profissionaliza-se

Essa lição de manter o foco em seu principal negócio foi seguida pelo Santos Futebol Clube, como disse Felipe Faro, diretor de Esportes do clube. “Não associamos nossa marca a outros esportes porque não temos dinheiro suficiente para investir em outras modalidades e nem queremos ver nossa marca ligada a um lutador da MMA, por exemplo”, explicou.

Faro enfatizou o profissionalismo do Santos que, segundo ele, está mudando os paradigmas do futebol brasileiro, ainda muito amador e arcaico. Por causa desse amadorismo, o Brasil detém apenas 2% das receitas geradas pelo futebol, enquanto os clubes eruopeus abocanham 89% dos direitos de transmissões pela TV, que superam os $30 bilhões.

O Santos é hoje a sétima torcida do Brasil e o crescimento da torcida do clube em dois anos e meio foi de 35%. Ele credita o bom momento a dois fatores. “Fizemos um novo estatuto no clube. Agora, os sócios podem votar, e o presidente pode ser reeleito apenas uma vez, com mandato de três anos. Além disto, há diretores profissionais, remunerados pelo clube. Outro fator, sem dúvida, chama-se Neymar”.

Ele afirmou que a decisão de manter Neymar até julho de 2014 foi consciente. Mesmo sabendo que o craque vai embora sem o Santos receber nada por isto, a diretoria acredita que o investimento se pagou, uma vez que ele serviu para aumentar o número de sócios e de torcedores do clube, além de aumentar o patamar do clube na hierarquia do futebol nacional. “Agora, pertencemos ao Grupo II nos direitos de transmissão, junto com Palmeiras, São Paulo e Vasco, e abaixo apenas de Corinthians e Flamengo, que estão no Grupo I”. Ou seja, o clube praiano aumentou consideravelmente seu faturamento e a visibilidade, o que compensou a perda de lucro quando Neymar deixar o Santos.

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