Antonio Tozzi
Obsessão. Esta palavra resume com fidelidade a carreira de Pedro Lázaro, pintor carioca que trouxe sua arte para Miami no início dos anos 90. Aqui, tornou-se um dos mais respeitados pintores brasileiros. Aliás, não só pintor. Pedro é também um profundo conhecedor da História das Artes Plásticas, das diversas tendências da pintura: impressionismo, expressionismo, cubismo. Sabe, inclusive, valorizar a arte contestatória dos latino-americanos, como o mexicano Diego Rivera e outros, assim como o abstracionismo de vários pintores americanos.
“Qualquer forma de expressão vale a pena”, diz nosso pintor, parafraseando Caetano Velosos e Milton Nascimento.
Desde pequeno a fascinação pelo desenho o hipnotizou. Ainda se lembra de um tio afetuoso que desenhava historinhas com bonequinhos simplórios e as narrava com muita emoção. “Mal podia tocar os pés no chão, mas não tirava os olhos daquele pedaço de papel. Sempre me identifiquei com a linguagem visual”, recorda-se Pedro.
Aos 17 anos, ficou fascinado com o trabalho de grandes pintores de todos os tempos, cuja história e quadros eram retratados na coleção Gênios da Pintura, da Abril Cultural. Van Gogh, Goya, Monet, Rembrandt e outros gênios despertaram ainda mais o desejo de Pedro Lázaro de se tornar um pintor.
Autodidata, começou a frequentar a feira hippie de Ipanema, onde artistas sem espaço em galerias para mostrar seus trabalhos expunham seus quadros. Ele também começou a trabalhar com pintores mais velhos, a fim de trocar experiências e aprender novas técnicas. Nunca, porém, cursou uma escola de artes.
Durante o período em que trabalhou na terraplenagem na Construtora Mendes Jr., na construção da rodovia Rio-Santos, Pedro aproveitou para retratar os empregados que deram seu suor para construir a estrada que rasga um dos mais belos trechos do litoral brasileiro. Depois, pegou seus pincéis e tintas e seguiu para Itaparica, na Bahia, onde passou um ano inteiro curtindo a paisagem paradisíaca da ilha e soltando sua criatividade.
Escola de Belas Artes. Em seu retorno ao Rio de Janeiro, decidiu procurar a Escola de Belas Artes. Pegou a pasta com seus desenhos e pinturas e mostrou o material para o professor Lídio Bandeira de Mello. Ele foi aceito como ouvinte na escola e convidado a trabalhar com o próprio Bandeira de Mello, tendo sido seu assistente na confecção de dois painéis de 30 metros x 4 metros da Caixa Econômica Federal, no Rio de Janeiro. A partir daí, começou a receber orientações técnicas, sobretudo como pintar em grandes espaços.
Na verdade, ele admite ter sido um aprendizado valioso. Até hoje, Pedro ensina que é mais fácil o artista treinar em telas grandes e depois partir para as pequenas do que o inverso. “O sentido espacial é mais completo numa tela grande. Assim, é mais fácil transpor as idéias para uma tela pequena. O inverso nem sempre ocorre”, revela.
Por ter um embasamento teórico e prático, Pedro Lázaro passou a dar aulas de Desenho e História da Arte na Escola de Belas Artes. Foi um período recompensador do ponto de vista didático, mas o espírito indômito de Pedro não se enquadrou no sistema. Ele queria viver experiências diferentes, enfim queria liberdade para criar e pintar.
De repente, EUA. Sua vinda para os Estados Unidos o levou, por incrível que pareça, à casa de um pintor americano, Richard Hess, que morava no norte do país. Embora teve de pintar molduras em vez de quadros, Pedro tornou-se amigo de Hess. No entanto, depois de retornar de uma de suas visitas ao Brasil, Pedro soube que Hess havia falecido. Daí, como estava em Miami, resolveu estabelecer-se no Sul da Flórida.
Para ganhar a vida, fez de tudo um pouco, Nunca, porém, esqueceu-se da arte. “Mesmo trabalhando nas lojas em downtown, tinha uma caixa com uns 2.000 cartões postais desenhados. Aí, quando o esquema de downtown entrou em crise, decidi: ‘Vida de artista por vida de artista, vou fazer o que gosto’. E comecei a viver da pintura”, lembra Pedro.
A comunidade brasileira pôde, então, apreciar o trabalho de Pedro Lázaro. Sempre pintando sobre tela, sua especialidade. São dezenas, centenas de telas que concentram sonhos, emoções e técnicas de Pedro. E também dezenas de prêmios e exposições. Ele foi agraciado com o Press Award e venceu o Concurso de Arte e Poesia, promovido pelo Latin American Museum, com o quadro e o poema ”The Bomber”, de autoria de Paulo Tedesco. Em conseqüência, ganhou o direito de fazer uma exposição individual no Latin American Museum.
Paz em 45 idiomas. Durante uma exposição numa biblioteca em Broward, ele mostrou a tela “Paz”, um painel de 2,20 x 1,40 metro. A tela simboliza uma passeata com as pessoas pedindo paz. E a palavra paz é reproduzida em 45 idiomas, desde os europeus até tupi-guarani, swahili, sânscrito, os asiáticos e braille, reproduzido em alto relevo.
O então cônsul geral do Brasil em Miami, embaixador Lúcio Amorim, fez um belo discurso sobre a paz. “Discutimos então a possibilidade de doação do quadro. Quando tudo ficou acertado, o embaixador foi transferido para a África do Sul. Agora, estamos à espera do sucessor para que ele decida onde vai querer colocar o quadro. Espero que seja no hall externo, as fim de mais pessoas terem acesso à obra”, pondera o artista.
Hoje, Pedro Lázaro tem obras suas em poder de várias personalidades, como os pilotos Tony Kanaan, Gil de Ferran, Cristiano da Matta e Christian Fittipaldi e de Xuxa. Seus quadros também são comercializados pela Wentworth Gallery, que tem 45 unidades espalhadas por todo os Estados Unidos.
Ele é um artista aberto a várias correntes e admite as mais diversas formas de arte. Em sua opinião, fotografia e cinema devem ser consideradas manifestações artísticas, contrariando os puristas que desqualificam qualquer tipo de arte que recorra a instrumentos. E também critica aqueles que preconizam o desaparecimento da pintura como forma de arte: “O homem desenha e pinta desde o começo do mundo. E isto nunca deixará de existir”. Ele está certo. Enquanto há emoção, há espaço para a arte, seja lá de que maneira for.