Agentes são obrigados a parar pelo menos três motoristas por dia, senão recebem advertência
Indícios fortes dão conta que a delegacia de Sunrise, referência no condado de Broward, estipulou cota de multas para seus agentes. Um dos policiais da corporação recebeu uma advertência por escrito porque não parou a quantidade de motoristas estipulada por seus superiores – três por dia. Isso significa que os 84 profissionais responsáveis pela segurança do trânsito naquela cidade são obrigados a cumprir 45.864 averiguações por ano – o equivalente à metade da população local. Os oficiais negam as acusações e desmentem a existência de cotas.
Sunrise é um dos destinos turísticos preferidos do sul da Flórida, pois lá estão o Sawgrass Mills e o Bank Atlantic Center, além de ser a residência de 33 mil famílias. “A sensação que dá é que trata-se de um jogo e que os policiais precisam atingir suas metas”, criticou Bob Jarvis, um professor de Direito da Nova Southeastern University. O custo média das multas é de 200 dólares.
Segundo o presidente do sindicato da categoria, Roger Krege, os agentes que cumprem a cota são recompensados com a possibilidade de promoção e até aumento de salário. Em contrapartida, aqueles que não atingem a meta recebem uma reprimenda. “Não cabe aqui qualquer crítica ao sistema, apenas cumprimos ordens”, admite o policial. Ele ressalta, porém, que cada profissional deve tomar as decisões com base no seu julgamento, sem ser influênciado pelo que chamou de “questões externas”.
O chefe de polícia de Sunrise, John Brooks, que está no cargo desde 2007, não admite as insinuações. “Não estipulamos cota para multas e nem para prisões. Não é ilegal, mas seria antiético”, afirmou. Por sua vez, o capitão Robert Voss, que coordena o trabalho dos policiais de trânsito, diz que o acompanhamento do número de averiguações ajuda a avaliar a produtividade da corporação. “Precisamos ter a certeza de que eles estão trabalhando mesmo”, resumiu. De outubro de 2009 até o início de agosto deste ano, a polícia de Sunrise arrecadou para os cofres públicos cerca de 352 mil dólares em multas.
“O problema de cotas é que cada multa aplicada pode gerar uma certa desconfiança na sociedade. Será que o motorista estava fazendo algo errado ou o tíquete foi dado simplesmente para que o policial pudesse atingir sua meta? Por isso, não é uma boa ideia”, finalizou outro jurista, Bob Dekle, da Universidade da Flórida, em Gainesville.