Jogadores brasileiros querem repetir façanha de amador que venceu o torneio mais importante da modalidade
Em 2003, a vitória de um jogador amador – o americano Chris Moneymaker – no torneio mais importante do pôquer, em Las Vegas, acabou mudando a vida de muita gente. Afinal, o rapaz de 27 anos jamais havia jogado um carteado ao vivo, em uma mesa, e apenas se dedicava a horas de partidas on-line, num site especializado em apostas. Com uma dose de sorte, ele faturou 2,5 milhões de dólares enfrentando profissionais veteranos e deflagrou uma nova mania na Internet: os cassinos virtuais.
Entre as pessoas que ficaram impressionadas com o feito de Moneymaker está um brasileiro. O carioca Álvaro Sousa Júnior, que vive nos Estados Unidos desde um ano de idade, acompanhou pela televisão a vitória do americano e ficou deslumbrado com a história, que até poderia ser aproveitada como roteiro de filme de Hollywood. A primeira coisa que lhe veio à mente foi: “se ele conseguiu, eu também posso”. A partir dali, Álvaro decidiu se dedicar ao pôquer, mesmo sem sequer saber, até aquele momento, as regras do jogo. “Só jogava buraco em casa”, admite o brasileiro, que cresceu em Miami e hoje vive em Charlotte, na Carolina do Norte.
O primeiro passo foi comprar dois livros com as regras e dicas do jogo. Depois, sentindo-se mais confiante, começou a arriscar trocados nos sites de pôquer on-line, muitas vezes em apostas de um ou dois cents de dólar por mão. “Hoje tenho mais de 45 livros sobre o assunto, que leio e releio para aprimorar meu jogo”, ressalta Álvaro, que está há pouco mais de três anos no ramo e, hoje, se considera um “jogador muito bom”.
Fiel às estratégias
Fiel a uma das estratégias do pôquer, ele não abre totalmente o jogo, mas conta que costuma colocar-se de frente para o computador umas quatro horas por dia e que, por vezes, chega a faturar mais de mil dólares numa só jornada. O desempenho nas mesas de apostas pela Internet já lhe permitiu abandonar o emprego antigo, como técnico de computação, para se dedicar exclusivamente ao pôquer on-line.
“Tenho mais qualidade de vida e tempo com a família”, justifica Álvaro, que é casado e tem um filho pequeno.
Sobre suas chances de repetir a façanha de Moneymaker, o brasileiro é realista: “Tenho mais chances de ganhar um Wold Series of Poker do que a maioria dos jogadores que estão por aí, mas ainda tenho um longo caminho pela frente. Preciso estudar mais e, quando me tornar um jogador excelente, é claro que vou tentar a sorte em Las Vegas”, conta Álvaro.
Da mesma forma, o paulista Yaron Efraim, de 32 anos, começa a dar seus passos nos sites de pôquer online e, em pouco tempo, já está circulando por mesas de apostas mais altas. Dono da franquia do Captain Shrimp de Hollywood, ele diz que ainda não tem condições de parar de trabalhar para pensar somente no jogo, mas deixa escapar que a atividade está ajudando a pagar as contas. “Jogo umas três horas de madrugada, depois que chego do restaurante. Quem sabe no futuro eu também possa viver só disso”, torce Yaron.
Lei pode acabar com o jogo
Mas nem todos estão satisfeitos com as apostas on-line. A administração de George W. Bush vem tentando aprovar um projeto de lei que proibindo definitivamente este tipo de negócio, que movimenta mais de 12 bilhões de dólares no mundo. Os Estados Unidos representam a maior fonte de receitas de sites como o Partypoker.com, Paradisepoker.com ou Partygaming.com, mas aqui no país as empresas de crédito americanas não podem mais aceitar transações feitas com este fim – os jogadores acabam burlarndo a proibição apostando com cartões de crédito internacionais ou através de contas bancárias criadas pelos próprios sites. Por outro lado, alguns políticos, como o democrata Robert Wexler (da Flórida), querem legalizar o jogo on-line e aplicar as taxações usuais, que encheriam os cofres do governo com mais de três bilhões de dólares por ano.
As vozes de defesa do pôquer online, apesar dos problemas que isto pode causar para as finanças pessoais e relaçÕes familiares, têm sido mais fortes. Uma enquete realizada pelo jornal New York Times revelou que mais de 70% da população não tem objeções ao jogo pela Internet e a causa ganhou até um aliado acadêmico: Charles Nesson, professor de Direito de Harvard, afirma que o jogo é capaz de desenvolver habilidades como a paciência, o autocontrole e o pensamento estratégico. “O pôquer não é um jogo de sorte, mas de habilidade. Trata-se de um bom caminho para incentivar os jovens a adquirirem conhecimentos sobre matemática, economia, educação e psicologia”.