Histórico

Por que a cidadania e a única esperança para uma reforma justa?

*Jonathan Rodrigues

2013 infelizmente não deu. Apesar da imensa pressão de tantos grupos de vários ramos sociais. Das grandes corporações aos sindicatos, de coligações de pastores a grupos de xerifes. Até o famoso bilionário Mark Zuckerburg, fundador do Facebook, fundou o grupo FWD.US, investindo milhões em uma campanha pró-reforma. Enfim, não existe assunto na politica americana com uma coalizão tão diversa e abrangente.

Vou ser claro. A reforma não passou porque um homem, o líder da Câmara de Deputados, John Boehner, republicano de Ohio, não deixou que a reforma viesse à pauta, mesmo ela tendo passado no Senado com apoio dos dois partidos. Ele não o fez mesmo sabendo que tinha os votos para passar. Por causa de uma minoria racista e xenofóbica dentro do seu partido – a maioria do centro e sul do país – geralmente chamada de facção “Tea Party”. O senhor Boehner infelizmente teve medo que seu posto de líder na Câmara poderia ser perdido se apoiasse a reforma. Política da covardia.

Agora vem outra investida para 2014. Vai ser muito mais difícil. Anos eleitorais são anos desertos para qualquer política que seja “controversa”. Mas o senhor Boehner quer fazer algo. Ele só não quer um caminho à cidadania. Esse caminho árduo, que na lei que passou o Senado duraria mais de 14 anos. Não, eles querem legalização, sem nunca dar a cidadania!

Por que é tão importante isso? Eu sei que tantos em nossa comunidade aceitariam qualquer legalização, só para viver com mais dignidade, visitar parentes no Brasil, viver sem medo. Eu entendo completamente. É muito fácil eu dizer essas coisas como um americano. Mas vale a pena entender o porquê.

Os críticos dizem que nem os imigrantes se importam com a cidadania. E é verdade, de acordo com novas pesquisas realizadas neste último mês. Dos mexicanos com o green card, só 36% se tornam cidadãos, os números são similares em outras etnias. E, mesmo quando os imigrantes se tornam cidadãos, somente cerca de 50% vão às urnas.

Mas os críticos se esquecem que nem mesmo os americanos se importam com sua cidadania. Um fato triste nesse país que se chama democrático, mas que desde 1948 nunca alcançou mais de 65% de votantes nas urnas. Em anos não-presidenciais o número é ridículo, e fica em torno dos 40%.

Então porque dar valor a essa tal “cidadania” se nem mesmo o americano se importa. É muito mais do que o ato de poder votar (e sim, você deve votar!). É proteção no trabalho e com as autoridades. É mais atenção e cuidado com suas comunidades, suas escolas, seus hospitais. Se uma lei passar sem ela, o que se cria é um cidadão de segunda classe, permanentemente marginalizado. O imigrante nunca terá a mesma voz, o mesmo poder de um cidadão. Isso é inaceitável. Depois de tantos anos de Estados Unidos, a cidadania não é brinde, é merecimento.

Eu seria injusto também em não mencionar a parte do presidente Obama. Ele certamente quer a reforma, e realmente não é culpa dele que ela não aconteceu. Um presidente não é rei, e depende das duas Câmaras do Congresso. Cem senadores, e mais 435 deputados federais.

Mas em uma coisa ele tem sido evasivo. O constante clamor dos imigrantes de parar deportações insensatas de pais e mães de família, separando-as como nenhum presidente fez anteriormente. Ja são quase dois milhões de deportações durante o seu mandato, mais do que qualquer outro presidente antes dele. E isso também faz parte da politica da covardia. Ganhando votos imigrantes de um lado, e do outro sempre mencionando que ele tem sido o mais feroz na “fiscalização da fronteira”. Já passou da hora de o presidente usar o seu maior poder: o microfone, para ganhar as mentes e corações dos americanos. A falha dele é a de nunca ser suficientemente insistente.

Finalmente, o que nos resta? O desespero? Não! Resta a nós, como imigrantes, lutarmos por nós mesmos. Agregue-se a organizações em nossa área trabalhando pela reforma, como a Florida Immigrant Coalition (floridaimmigrant.org) e não esqueça de usar sua voz. Ligue para o senador Marco Rubio, e para os deputados Ted Deutch e Lois Frankel. Diga a eles, “My name is ___`seu nome` I live in ___-`sua cidade`__ and I’m calling to ask that ` nome do politico` pushes for immigration reform with a pathway to citizenship even more this year. Our communities in Florida depend on it!”.


* Jonathan Rodrigues nasceu em Boston nos EUA e é filho de pais mineiros. Viveu sua adolescência em Pompano Beach antes de se formar em Ciências Políticas na Universidade de Chicago. Há quatro anos trabalha como organizador em comunidades imigrantes desde sua passagem em Chicago, na Flórida e mais recentemente vivendo em Boston onde trabalha na ONG Sociedad Latina, ensinando e organizando adolescentes latinos.

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