Histórico

Projeto quer padronizar medidas do vestuário brasileiro

Esta medida visa evitar discrepâncias na comercialização dos produtos e facilitar a vida dos consumidores

O consumidor entra na loja e escolhe um produto para experimentar de acordo com o seu tamanho, mas quando veste a roupa ou calça o sapato é surpreendido: descobre que está menor ou maior do que esperava. E quando se trata de roupas, quase sempre, a pessoa acha que está acima do peso. “Isso ocorre devido à falta de padrão de tamanhos no vestuário brasileiro”, afirma Roberto Chadad, presidente da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest).

As roupas feitas em jeans, por exemplo, estão entre as que mais geram discordância. “É comum as indústrias cortarem uma calça com manequim 46, e, depois que vai para a lavanderia, ela volta 42”, explica Chadad. Para resolver esse problema e outros decorrentes da falta de normas para definir as medidas dos brasileiros, o presidente da Abravest anuncia que a entidade está colocando nas ruas o projeto Padrão de Tamanhos, uma iniciativa em parceria com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

Até o fim deste ano, o projeto vai realizar o Censo Antropométrico, baseado nas metodologias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e deverá medir 25 mil brasileiros nas regiões Norte, centro-sul e Sul. As pessoas serão medidas por scanners instaladas em escolas, faculdades e lugares públicos. O equipamento se parece com um terminal de banco 24 horas, segundo o presidente da Abravest.

O primeiro passo para exigir o padrão de tamanhos dos produtos do vestuário brasileiro foi a publicação da portaria da ABNT nº 13377, editada em maio de 1995. Recentemente, a Abravest firmou convênio com o órgão, para o fornecimento da Certificação de Conformidade às empresas do setor de vestuário, que estão produzindo de acordo com a portaria.

A ABNT já está fiscalizando e certificando as confecções e indústrias que produzem dentro da norma. De posse da Certificação de Conformidade da ABNT, essas empresas podem solicitar o selo de qualidade da Abravest. As unidades estaduais do Senai estão ensinando as empresas a se adequar ao padrão de tamanhos. “Antes de cortar um produto na malha, por exemplo, é preciso deixá-la esticada descansando, no mínimo, por doze horas senão encolhe”, explica Chadad.

Ele acrescenta que, posteriormente, o Instituto de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) também será parceiro do projeto e vai ajudar na fiscalização, podendo até multar as empresas que continuarem com seus produtos fora das medidas padronizadas.

O Brasil não é o único país que está providenciando a padronização de tamanhos de sua população. A União Européia também está realizando censo antropométrico, visando redefinir as medidas dos europeus, devido à inclusão de novos países na comunidade.

Junto à Lei da Etiqueta, que instituiu a obrigatoriedade de informar a composição técnica dos tecidos na roupa e orientação para a lavagem, as normas de padronização dos tamanhos vão melhorar a qualidade da produção do vestuário brasileiro. Atualmente apenas 120 indústrias e confecções de roupas obtiveram a Certificação de Conformidade da ABNT no País.

“No próximo ano, uma campanha da entidade vai estimular os consumidores a exigir o selo da Abravest nas roupas”, adianta Chadad. O setor é composto por 25 mil empresas formalizadas. “O desafio é grande e serão necessárias outras parcerias para concretizar os objetivos do projeto”, acrescenta.

Vantagens e benefícios – “A padronização dos tamanhos brasileiros também vai servir para a indústria automobilística, de calçados, da construção civil, aeronáutica, na fabricação de caminhões, de máquinas e equipamentos, etc”, ressalta Chadad. Geralmente as medidas dos norte-americanos e europeus, que são maiores dos que os brasileiros, são utilizadas na indústria brasileira. “Daí surgem as dificuldades de adaptação dos brasileiros nos automóveis, aviões, equipamentos, máquinas e até móveis”, justifica o presidente da Abravest.

As vendas de produtos do vestuário via internet serão especialmente beneficiadas pela padronização dos tamanhos brasileiros.”Como um norte-americano ou europeu vai comprar uma roupa nossa pela internet, sem saber a correspondência no padrão brasileiro?”, exemplifica. A recíproca também ocorre. “Como um brasileiro vai reclamar sobre um tamanho de um produto importado se não temos parâmetro normatizado no País?”, alerta.

No ano passado, os Estados Unidos compraram US$ 178 milhões de roupas, sapatos e chapéus via rede mundial de computadores. “Os produtos brasileiros provavelmente ficaram de fora desse mercado em expansão”, observa Chadad.

O padrão de tamanhos brasileiros também vai ajudar na fiscalização dos portos e aeroportos. Uma guia de importação pode estar citando que contêineres estão trazendo roupas infantis ao Brasil e, na verdade, são roupas para adultos. “A falta de normas estimula o contrabando e a pirataria. Os impostos equivalem ao tamanho das peças. Ou seja, a falta de padrão de tamanhos no Brasil acaba lesando os cofres públicos também”, argumenta.

O projeto Padrão de Tamanhos da Abravest encontra-se em fase de análise técnica na Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e no Ministério da Ciência e Tecnologia desde 2002. Cinqüenta e seis entidades aguardam a sua aprovação para começar a trabalhar em conjunto e viabilizar as ações do projeto. A unidade do Sebrae no Estado de São Paulo vai assumir os custos das visitas dos técnicos do Senai a sindicatos e empresas do setor têxtil e confecção. “Vamos buscar a parceria do Sebrae Nacional para nos ajudar a levar o projeto a todas as unidades da Federação”, conclui Chadad.

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