Histórico

Snowden e Manning:

Antonio Tozzi

Bradley Manning, o soldado que denunciou os crimes de guerra praticados por soldados americanos no Iraque, e Edward Snowden, ex-contratado da Agência de Segurança Nacional (NSA na sigla em inglês), são tidos por heróis pelos chamados “inimigos” dos EUA, por denunciarem as “falcatruas cometidas por este ignóbil regime capitalita”. E são considerados traidores pelos “patriotas”, que não querem que nada de ruim sobre os EUA seja revelado “para exploração indevida desta malta comunista”.

Enquanto Manning encontra-se nos EUA sendo julgado – em primeira instância, já foi absolvida de crime de lesa pátria -, o autor de vazamentos de segredos dos EUA acabou de deixar a zona de de trânsito do aeroporto de Moscou, onde estava desde 23 de junho. As autoridades da Rússia garantiram a Snowden asilo temporário por um ano, disse seu advogado Anatoly Kucherena esta semana.
Ele disse que o paradeiro de Snowden será mantido em segredo por razões de segurança. O autor dos vazamentos de segredos da NSA estava na zona de trânsito do aeroporto Sheremetyevo, em Moscou, desde que havia chegado de Hong Kong em 23 de junho.

Os EUA exigiram que a Rússia extradite Snowden para que ele enfrente as denúncias de espionagem na Justiça, mas o presidente Vladimir Putin descartou o pedido. Putin disse que Snowden poderia receber asilo na Rússia com a condição de que parasse de vazar segredos dos EUA. Kucherena afirmou que Snowden aceitou essa condição.

O jornal The Guardian publicou na quarta-feira (31) uma nova reportagem sobre os programas de monitoramento dos EUA baseada em informações provenientes de Snowden, mas Kucherena disse que o material foi fornecido antes que Snowden se comprometesse a parar de vazar documentos.

Snowden, que revelou detalhes de um programa de inteligência dos EUA para monitorar dados telefônicos e atividades na internet, teve ofertas de asilo da Venezuela, Nicarágua e Bolívia, e disse que queria visitar esses países. No entanto, as logísticas para chegar a qualquer um desses países são complicadas, porque seu passaporte dos EUA foi revogado.

O grupo do site de vazamentos WikiLeaks disse que sua assessora jurídica Sarah Harrison está agora acompanhando Snowden. O grupo também elogiou a Rússia pelo oferecimento de abrigo ao americano. “Gostaríamos de agradecer ao povo russo e todos os outros que ajudaram a proteger Snowden”, disse WikiLeaks no Twitter. “Vencemos a batalha – agora a guerra.”

O caso Snowden aprofundou as tensões das já complicadas relações entre os EUA e da Rússia, principalmente por causa da guerra da Síria, das críticas americanas em relação aos direitos humanos na Rússia, entre outras questões. O assessor de Putin para relações exteriores, Yuri Ushakov, tentou minimizar o impacto que isso terá nas relações entre Moscou e Washington. “A questão não é significativa suficiente para ter impacto nas relações políticas”, disse, segundo agências russas de notícias.

Como se vê, os “esquerdistas” estão orgulhosos de seus “heróis”, embora fique difícil definir como herói alguém que é elogiado ao mesmo tempo por Michael Moore, símbolo do esquerdismo americano, e por Glenn Beck, estrela do público ultra conservador. Claro que ambos por motivos diferentes. Moore, por convicção ideológica, e Beck por odiar o governo Obama.

Agora, façamos um exercício de abstração. Digamos que um ou ou mais dissidentes russos, chineses, norte-coreanos ou cubanos fizessem a mesma coisa, ou seja, denunciassem a arbitrariedade praticada pelas forças armadas destas nações ou revelassem segredos de Estado destes países.

Qual seria a reação daqueles que hoje aplaudem a “coragem” destes heróis? Provavelmente, eles os qualificariam como traidores e vendidos ao capitalismo, pessoas que querem denegrir a sacrossanta imagem do socilaismo e/ou comunismo. E logicamente denunciariam que isto não passou de uma orquestração financiada por Washington.

Do lado mais conservador, também as reações seriam adversas. Exigiriam que o governo americano concedesse asilo político a estes “heróis” que tiveram a “coragem’ de enfrentar regimes totalitários e denunciaram ao mundo a arbitrariedade que impera nestes lugares.
Como se vê, a questão de quem é herói ou quem é traidor deve-se muito à ótica pessoal de cada um. Cada qual quer julgar de acordo com seus princípios políticos, éticos ou morais. Ou seja, defendemos aqueles que estão em nossas trincheiras e condenamos aqueles que estão no front inimigo.

Particularmente acho que, independente do regime político, não podemos qualificar de heróis quem revela segredos de Estado de quem quer que seja. Isto, além de colocar em risco a segurança nacional, ainda fornece trunfos para terroristas e outros inimigos que podem usar estas informações para preparar ataques contra as nações, sobretudo no caso dos odiados Estados Unidos, Rússia e China.

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