Histórico

União Européia endurece leis contra imigrantes

Ativistas veem xenofobia em medidas para preservar postos de trabalho de nativos

Quem pensa que as leis de imigração dos Estados Unidos são as mais rígidas do mundo precisa saber o que está acontecendo em países da União Européia. Na Inglaterra, por exemplo, o governo britânico vai endurecer as regras para os trabalhadores que não pertencem às nações do Bloco e passará a exigir, a partir de abril, que os interessados em imigrar sem uma oferta de emprego terão de ter um mestrado – e não apenas curso universitário, como é atualmente – e um salário anterior equivalente a 20 mil libras por ano (o equivalente a 32 mil dólares). “Estamos aumentando o nível de exigência para os imigrantes”, confirmou a ministra do Interior do país, Jacqui Smith.
A decisão foi tomada em função da crise econômica e do alto nível de desemprego na região. Muitos ingleses reclamam que estão perdendo trabalho para imigrantes. A ministra não escondeu que pretende dificultar a entrada de estrangeiros na Inglaterra, mesmo aqueles qualificados. “Não é possível que alguém chegue ao país para ocupar uma vaga que exige qualificação, a menos que o emprego já tenha sido anunciado para candidatos britânicos e não tenha sido preenchida”, disse Smith, que também ordenou que seja investigado o impacto da chegada das famílias de trabalhadores imigrantes à Grã-Bretanha. Pelas estatísticas, o número de trabalhadores estrangeiros que se mudaram para a Grã-Bretanha somente em 2008 foi superior a 3,8 milhões.
O Ministério do Interior acredita que com a nova lei cercar de 12 mil imigrantes a menos entrariam na Grã-Bretanha a cada ano. Mesmo assim, a postura adotada pelo governo gerou críticas. O porta-voz do Partido Conservador, Damian Green, afirmou que as medidas não serão suficientes para resolver o problema. Para ele, a ministra está tentando dar uma satisfação aos ingleses, naturalmente nervosos com a situação do desemprego, mas não apresentou soluções abrangentes.
Pelas regras atuais, a permissão de entrada na Inglaterra de trabalhadores qualificados de fora da União Européia pelo programa “Highly Skilled Worker” é baseada em um sistema de pontuação que leva em conta o salário anterior, eventual experiência anterior no país, idade, nível de conhecimento da língua inglesa e fundos para iniciar a nova vida. As mudanças foram anunciadas logo após centenas de pessoas participarem de uma passeata, cujo lema principal era ‘Empregos do Reino Unido para trabalhadores britânicos’.
A pressão também é grande na Espanha, onde o desemprego chega a quase 16%. Lá os estrangeiros têm sofrido ainda mais, pois funções que vinham sendo feitas por imigrantes, como serviços domésticos, de limpeza, construção civil e agricultura, agora são cada vez mais disputados por espanhóis. “A tendência é a escalada de ressentimentos sociais entre os pobres: nativos e imigrantes”, calcula Ivan Briscoe, do Centro de Pesquisa para a Paz, Fundação para as Relações Internacionais e o Diálogo Externo.
Na Alemanha, onde imigrantes representam importante parcela da mão-de-obra em vista do envelhecimento da população, a crise aumentará a xenofobia se durar e terá repercussões, na opinião de especialistas. “As reações contra os trabalhadores estrangeiros ainda são pequenas, mas a tendência é aumentar”, prevê Gabriela Boeing, da Organização para Migração Internacional. Com a crise e a decorrente diminuição de vagas, há pressão para que o governo proteja empregos dos nativos. Para ela é mais fácil culpar estrangeiros do que a política econômica.

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